Carlos Pimenta, Expresso online (113 03/03/2021)
Porque nas problemáticas da fraude, e não só, prevenir é quase sempre melhor que remediar, a grande medida de combate aos problemas das redes sociais no mundo contemporâneo é a existência por parte dos seus utilizadores de um bom conhecimento sobre o seu funcionamento e a cibersegurança
INTRODUÇÃO
As redes sociais são um aspecto recente da sociedade contemporânea. O Facebook nasceu há 17 anos (embora a designação de «rede social» tenha surgido, com outro significado, meio século antes). Surgida numa época de sistematicidade da fraude e ampliando o espaço de comunicação dos cidadãos, independentemente da sua localização geográfica, não é de espantar que se tenha tornado num instrumento de concretização de fraudes e numa ferramenta de trabalho do crime organizado. Não pela sua natureza ou pelo maquiavelismo dos seus dirigentes, mas pelo próprio contexto em que cresce. Antes de tudo pelo seu sucesso, pois tem mais de 2,5 mil milhões de utilizadores e comprou o Instagram e o WhatsApp.
Com características de crescimento e desenvolvimento totalmente diferentes o Google é a outra grande instituição da Internet, inserindo-se no mesmo contexto social. Segundo a Wikipedia
«O rápido crescimento do Google desde sua incorporação culminou em uma cadeia de outros produtos, aquisições e parcerias que vão além do núcleo inicial como motor de buscas. A empresa oferece softwares de produtividade online, como o software de e-mail Gmail, e ferramentas de redes sociais, incluindo o fracassado Google+ e os descontinuados Google Buzz e Orkut. Os produtos do Google se estendem à área de trabalho, com aplicativos como o navegador Google Chrome, o programa de organização de edição de fotografias Picasa e o aplicativo de mensagens instantâneas Google Talk. Notavelmente, o Google também lidera o desenvolvimento do sistema operacional móvel para smartphones Android.»
Este contexto defraudador foi potenciado pela actuação da Cambridge Analítica e a sua crescente importância na política e na expansão do populismo, castrador das liberdades públicas, que tende a fazer ressaltar os aspectos negativos do Facebook e do Google (nomeadamente o terrorismo e as notícias falsas). No entanto as redes sociais têm um vastíssimo conjunto de aspectos positivos que é fundamental salientar.
Como dizemos frequentemente, contra factos não há argumentos, pelo que há que recorrer a um controlo da sociedade politicamente organizada sobre o funcionamento destas redes sociais. A pergunta que se levanta é: como?
São, como o mostra exactamente alguns aspectos da resposta a esta pergunta que procuraremos abordar nesta crónica.
PREVENÇÃO
Como facilmente se reconhece a velocidade de transformação do mundo contemporâneo, a sequência de acontecimentos, aumenta e confronta-se com duas formas de o encarar: privilegiar o curto prazo ou o longo prazo. O contexto social em que nós nos movemos tende a privilegiar o curto prazo, como o demonstra um dos indicadores de Hofsted (os EUA têm um índice 26 na “orientação de curto prazo”, enquanto a China, por exemplo, tem 87).
Porque nas problemáticas da fraude, e não só, prevenir é quase sempre melhor que remediar, a grande medida de combate aos problemas das redes sociais no mundo contemporâneo é a existência por parte dos seus utilizadores de um bom conhecimento sobre o seu funcionamento e a cibersegurança. Esta exigência é tanto maior quanto o impacto das redes sociais na nossa sociedade, tendo como contrapartida a lógica de actuação do curto prazo.
Tal não significa a inexistência de outras medidas de fiscalização e regulação, passando pelas inevitáveis leis, como veremos, mas é decisivo uma sólida formação do maior número possível de cidadãos sobre as redes sociais. Formação ao longo da vida a começar bem cedo nos bancos da escola.
TAMBÉM SOMOS CLIENTES
Hoje temos um email que nos permite muitas comunicações gratuitamente. Pertencemos a uma rede social gratuitamente, usufruímos dos navegadores na Internet gratuitamente. Isto e muito mais, o que é contra a prática habitual da obtenção e utilização de programas informáticos (obviamente sem publicidade).
“Tudo gratuito! Maravilhoso para todos nós. Mas não será que tal é estranho quando é praticado por uma empresa (…) , que visa legitima e eticamente a maximização do lucro? (…) Como se justifica?
De uma forma simples. Tudo isso é gratuito porque todos nós somos as cobaias. Os seus clientes são os anunciantes que optam por eles caso garantam mais vendas que as outras vias. Quem é que os anunciantes visam atingir? Nós. Por isso é que todos nós, utilizadores, somos estudados e analisados ao pormenor, perdendo toda a privacidade”.
Ora a partir do pagamento todo o paradigma é alterado: também somos clientes.
SISTEMÁTICA FISCALIZAÇÃO
Embora as propostas anteriores mudem, se aplicadas, o paradigma das redes sociais, é decisivo numa fiscalização efectiva do funcionamento daquelas.
Sendo a transparência uma miragem (https://obegef.pt/wordpress/?p=43409), a independência uma forma equivocada de falar da honestidade (https://obegef.pt/wordpress/?p=45458 , e os conflitos de interesses bem mais complexo do que frequentemente é considerado ꟷ pois os conhecimentos pessoais, as amizades e os antagonismos também podem gerá-los ꟷ, o grupo central de controlo e fiscalização deve resultar de uma escolha aleatória entre cidadãos, cabendo ainda reflectir sobre a base dessa aleatoriedade. Não seria uma escolha política de um qualquer organismo, mas o mero resultado de três parâmetros: nacionalidade, competência e aceitação do próprio. Teria que ser sempre um órgão colegial constituído por um reduzido número de membros.
A sua principal função seria construir uma base de dados dos utilizadores e das informações recolhidas sobre eles pelas redes sociais, baseada na análise e não na informação prestada por elas.
CONCLUSÃO
Sabemos que o anteriormente sugerido é muito vago e totalmente diferente das práticas habituais. Exige um vasto e profundo debate.
É este o momento para tal!