Henrique Santos, Visão on line,

Considerando que estou do lado de quem tem poder de decisão (que não estou!), aquela que considero ser uma das ideias mais interessante do actual contexto político-económico vai já na sua quinta edição e está mais ousada que nunca.
Grosso modo, a linha de crédito em referência pode traduzir-se no seguinte, a PME (Pequena e Média Empresa) investe, o Banco empresta, e o Estado garante e bonifica.
Esta é a linha da concórdia, e só tem aspectos positivos. Senão vejamos:
1. Foi criada para as PME's, mas também se aplica às micro empresas, que têm sempre mais dificuldade em negociar com a banca;
2. As empresas da referida dimensão têm acesso a uma linha de crédito bonificado, e em grande parte com garantia dada pelo Estado;
3. A Banca "volta a poder dar crédito", correndo um mínimo risco (tendencialmente nulo) de crédito mal parado, e assim garante rentabilidade;
4. O Estado agrada às empresas, sustem os bancos, e ainda pode reaver dívidas que tinha por receber (segurança social e finanças).
5. Politicamente é possível anunciar novas linhas de crédito e novos milhões de euros disponibilizados às PME's, de forma contínua. Na sua quinta edição foram anunciados 750.000.000€. É sempre bom saber que há muito dinheiro disponível para investimento.
Atendendo a que uma moeda tem sempre duas faces, aqui deixo algumas reflexões:
a) Por se tratar de uma linha de crédito, estamos naturalmente a falar de um empréstimo, e os empréstimos têm de ser devolvidos.
b) Na prática, o Estado deu aos bancos a análise de risco do crédito que ele próprio vai garantir e em parte bonificar. É certo que os bancos irão tentar garantir o recebimento da dívida por todos os meios, em caso de incumprimento, e até podem exigir garantias adicionais aos devedores, mesmo na componente garantida pelo Estado (!). Parece-me que foram estes mesmos bancos que em grande parte estiveram envolvidos nos últimos acontecimentos financeiros nada favoráveis à economia.
c) Politicamente o Estado vai poder anunciar, permanentemente, nova disponibilização de milhões de euros, cada vez que começarem a ser devolvidos os montantes das linhas anteriores, logo se infere que se trata sempre do mesmo dinheiro disponibilizado, isto é, passível de garantia e bonificação.
d) Os bancos têm assim o apoio do Estado, não lhes injectando dinheiro directamente (que a sociedade em geral não veria com bons olhos), mas permitindo-lhe, de igual forma, a sua disponibilização, altas taxas de rentabilidade através de pagamento de juros, e dando-lhes garantia de reembolso. Os spreads e a rentabilidade garantida não são assim tão baixos, para um empréstimo que em grande parte tem uma garantia do Estado.
e) O Estado até pode vir a garantir empréstimos que sejam suporte ao pagamento de dívidas ao próprio Estado. Sim, é possível!
f) Não são conhecidas, de forma clara, as taxas de incumprimento (e portanto também incluído o potencial "erro" de análise bancária) das linhas de crédito anteriores.
Na sua essência, a linha de crédito PME INVESTE é, na minha opinião (no actual contexto político-económico), uma das medidas mais inteligentes (consegue matar vários coelhos, quiçá lebres, de uma cajadada só!), no entanto, não tenho as garantias suficientes que ela será aplicada tal e qual foi idealizada. Não tenho a certeza que o seu autor seja aquele que a está aplicar e assim, eventualmente, não esteja a ser subvertido o processo. Não sei ainda o custo que tal medida teve/terá, nem se foi realizada uma avaliação de impacte, ou delineados mecanismos de controlo e acompanhamento. A resposta a este conjunto de questões poderá ser a diferença futura e o saldo negativo desta linha.
Perguntar-me-ão, se não devia ou podia esta crónica estar noutra secção de economia, que não a de Fraude? Respondo como o outro: "Poder podia, mas não era a mesma coisa!"