Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

Os políticos portugueses são em geral incapazes de tomar e implementar as medidas que conduzam aos resultados que desejam e anunciam. Normalmente por manifesta incompetência, outras vezes por desonestidade, sempre porque os meios usados levam necessariamente a consequências diferentes.

Estas ações que produzem resultados diferentes e até contrários das consequências esperadas designam-se ações contraproducentes.

Recordam-se de António Guterres que, como primeiro-ministro, decidiu acabar com a nossa moeda, o escudo, e adotar o euro. Tomou essa decisão para que Portugal convergisse com as economias europeias e atingisse a média europeia em 10 anos. A medida revelou-se contraproducente. Portugal não só não convergiu como divergiu e hoje está na cauda da Europa. Uma medida contraproducente de que ainda hoje pagamos a consequências.

Esta semana também soubemos que o grande desígnio do Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa de eliminar os sem-abrigo, anunciado com pompa, comunicado com afeto, divulgado em excursões e refeições junto dos infelizes na presença da comunicação social, não se vai concretizar. Pior o número de sem-abrigo que resultaram dos nobres, bem-intencionados e intensos esforços do nosso Presidente é o dobro dos que existiam antes. Outra ação contraproducente.

Em todos estes casos o país estaria melhor se estes políticos nada fizessem, pois com as suas ações só conseguem piorar a situação.

De onde vêm estas ações contraproducentes? Na verdade a racionalidade define-se como a capacidade de encontrar os meios que nos permitam atingir um determinado fim/objetivo. Uma pessoa racional é aquela que consegue com as suas ações obter o resultado a que se propõe. Temos que as ações contraproducentes são, por definição, irracionais. Uma pessoa globalmente racional pode tomar, em certas circunstâncias, decisões irracionais. Por ignorância, por falta de informação, por precipitação.

Mas onde está o erro destas ações de que falámos? Na definição do objetivo? Nos meios empregues para alcançar o objetivo? Nos dois?

Nestes dois casos o objetivo era e é alcançável. E mesmo desejável. É possível convergir para a média europeia e é possível eliminar os sem-abrigo. O erro não esteve na definição do objetivo, mas na escolha dos meios para os alcançar. No primeiro caso, o Euro não ajudou o país, ao contrário do que pensava Guterres, a convergir antes nos atrasou e, no segundo caso, a atuação lenta e ineficaz do Presidente não acautelou a possibilidade de cada vez mais pessoas ficarem sem casa.

Este é o drama da classe política portuguesa. Não consegue tomar decisões, quer face aos grandes problemas (como no caso da moeda nacional), quer nos de menor dimensão (caso dos sem-abrigo), sem falhar redondamente. Nas últimas décadas não encontramos muitos exemplos de medidas que tenham obtido os resultados pretendidos.

Em geral os governantes portugueses tomam muitas decisões sem a informação suficiente, sem terem estudado os temas a fundo. E quantas vezes os estudos que encomendam são enviesados - feitos para justificar uma decisão já tomada e não para enformar uma decisão a tomar. O exemplo do aeroporto é gritante - existem estudos para todos os gostos e localizações. É uma falta de profissionalismo, uma incompetência. Este é um dos dramas do nosso país.