Mário Tavares da Silva, Expresso online
Nessa fileira humana que marca a história dos homens, e que perpetua os homens na História, na Academia e na sociedade em geral, sobretudo pelo legado que desde a primeira hora procuram construir e dessa forma contribuir para uma economia e uma sociedade mais íntegra e transparente está, incontornavelmente, a figura de Carlos Pimenta
Um dos mais relevantes e desafiantes construtos da moderna gestão pública é o que se relaciona com a ideia de “boas práticas”, utilizado em diversas áreas de atividade, pública e privada, e tendo como elemento estruturante, a referência a um conjunto de ações, métodos, técnicas ou padrões considerados ideais ou, se preferirmos, que se consideram e sinalizam como recomendados a seguir.
Essas “boas práticas” devem ser desenvolvidas com base na experiência, pesquisa e no conhecimento acumulado ao longo do tempo, por forma a prosseguir objetivos de melhoria de eficiência, de qualidade, e segurança no desempenho de uma concreta atividade. Deste modo, ao constituírem referenciais para uma boa atuação, as “boas práticas” procuram também melhorar os resultados das organizações e de quem nelas serve, minimizando riscos de inconformidades e, sobretudo, garantindo que as atividades se desenvolvam de forma regular, eficiente, segura e eticamente responsável, seguindo os mais elevados padrões de excelência nas respetivas áreas de atuação.
Uma dessas “boas práticas” é, sem dúvida, o reconhecimento do trabalho de alguém e o incentivo a que outros, na sua peugada e à luz do seu exemplo, possam, igualmente, procurar ir mais à frente, desenvolvendo, investigando, inovando, desafiando e testando novas fronteiras do saber, em busca de mais e de melhor conhecimento e, sobretudo, de conhecimento e de saber que possa servir, de forma útil, na vida das organizações, públicas e privadas, e da sociedade em geral, aportando-lhes valor e ajudando à tomada de boas decisões, sempre ao serviço da comunidade e em prol de uma vida mais justa e mais igualitária para todos.
Não são muitos, confesso, aqueles que granjeiam esse estatuto, pois ser-se reconhecido e seguido como um exemplo, sobretudo de competência, sabedoria e integridade, exige abnegação, desprendimento, coragem, resiliência e, mais do que tudo, uma boa dose de sentido de missão e de permanente disponibilidade para servir os seus concidadãos, sem deles, note-se, nada exigir em troca.
Nessa fileira humana que marca a história dos homens, e que perpetua os homens na História, na academia e na sociedade em geral, sobretudo pelo legado que desde a primeira hora procuram construir e dessa forma contribuir para uma economia e uma sociedade mais íntegra e transparente está, incontornavelmente, a figura de Carlos Pimenta.
Para quem não sabe, Carlos Pimenta, Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), fundador e antigo Presidente do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF), e que nos deixou em outubro passado, está nesse valioso panteão de integridade e de atuação proba e socialmente relevante, sobretudo, mas não só, pelos inúmeros escritos que deixa em espólio e pela ativa e eficaz participação cívica que sempre procurou preservar até ao final dos seus dias.
Recordo-me, aliás, num agradável telefonema que me fez já ao final do dia e que ainda hoje trago como exemplo da sua abnegação, a sua insistência e genuína vontade, apesar da sua já débil situação de saúde, em garantir, como sempre fizera, a sua crónica neste mesmo espaço semanal do OBEGEF, entidade que fundou e que sempre acarinhou, sem nunca regatear.
Altruísmo cívico, voluntariedade na ação, preocupação com o bem comum e com o desenvolvimento da sociedade e, sobretudo, dotado de um enorme sentido de responsabilidade social, Carlos Pimenta procurou sempre, no final de cada dia, impactar positivamente a vida da comunidade e o bem de todos e de cada um de nós.
Carlos Pimenta fez desse seu altruísmo cívico uma constante no percurso da sua vida de cidadão, tendo marcado sempre presença na primeira linha do combate a todas as formas de ausência de ética e integridade, de injustiças e de todas os modos de subjugação dos interesses coletivos a interesses difusos e pouco claros.
Neste contexto, é mais do que merecido o reconhecimento de que goza junto de todos nós, sobretudo, mas não só, por parte de todos aqueles que, no OBEGEF, irão agora procurar, por todas as formas, preservar a sua memória, honrar o seu relevante legado e perpetuar os seus ensinamentos.
Verdadeiro exemplo de cidadania e uma referência maior no âmbito da ação da academia, o seu universo profissional ilustra ainda, dada a sua ligação de uma vida à Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), a sua permanente procura, civil, profissional e academicamente, de uma sociedade mais sã, mais justa e mais equilibrada.
Orientado por esse relevante desígnio de preservar a sua memória e o seu legado, o OBEGEF, a FEP (representada pelo seu Diretor, Professor Óscar Afonso) e os familiares do Professor Carlos Pimenta decidiram, em boa hora, instituir o Prémio Professor Carlos Pimenta, apoiado pelo MENAC (Mecanismo Nacional Anticorrupção) e com o objetivo de promover a investigação, o estudo, o conhecimento, nos domínios da ética, integridade, transparência e prevenção de todas as formas de fraude, corrupção, branqueamento de capitais e economia não registada.
Uma boa prática que desde já se aplaude, incentivando e desafiando todos e todas a ir mais longe do que foi Carlos Pimenta, descobrindo e ultrapassando novas fronteiras do saber, superando-se a si próprios, pelo estudo, pela abnegação, pelo altruísmo cívico que sempre marcaram, afinal, a vida e obra de Carlos Pimenta, certos de que em cada prémio que no futuro venha a ser atribuído, estará sempre presente um pedaço da memória e da vida de Carlos Pimenta.
Talvez por isso tenha razão Faulkner quando nos interpela e inquieta, ensinando-nos que “…na vida o passado nunca morre, pois nem sequer é passado…”.
Este prémio é disso bem ilustrativo, perpetuando um passado que não irá desaparecer e, sobretudo, assumindo um futuro de que, estamos certos, Carlos Pimenta, juntamente com todos nós, continuará certamente a querer fazer parte.