Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo
A revista americana Fortune de Agosto/Setembro de 2023 publicou a habitual lista das 500 maiores empresas do mundo em volume de receitas. Os Estados Unidos têm 136 (27%) destas 500 empresas sendo o país mais representado. Em contraponto o país mais poderoso da União Europeia, a Alemanha, consegue incluir na lista apenas 30 empresas (6%). A França por seu lado tem 24 (4,8%) empresas neste grupo.
Portugal não tem nenhuma empresa desta dimensão. Não participa neste campeonato. Os nossos excelentes empresários e gestores não tem nem, como diria Camões "o engenho e a arte" de desenvolver empresas verdadeiramente competitivas no mercado mundial. Estão mais centrados em obter subsídios de fundos públicos e em fazer lobby para diminuir os impostos, e consequentemente, reduzir os serviços públicos (saúde, educação, defesa) dos outros portugueses.
Portugal é um país pequeno argumentam. Infelizmente este estafado argumento já não cola, quando vemos países muito mais pequenos ou de população semelhante surgir na lista. Países mais pequenos como a Suíça (11 empresas nas 500 maiores do mundo), a Irlanda (3), a Dinamarca (3), Singapura (3), a Suécia (1), e até o minúsculo Luxemburgo (1). E também países de dimensão semelhante como a Austria (1), a Bélgica (1). A pequenez não explica nada.
Outro argumento diz-nos que se trata de países ricos e nós somos um país pobre. Isso é verdade. Mas como a riqueza não cai do céu, podemos concluir que é ao contrário: são ricos porque tem empresas grandes e competitivas e não o inverso.
O que explica então o falhanço de gestores e empresários portugueses?
Duas razões essenciais: a captura do Estado pelos empresários e incentivos errados.
A captura do Estado pelos empresários, pondo-o ao seu serviço é a razão principal da pobreza nacional e da impossibilidade de internacionalizar as empresas portuguesas para além de uma pequena escala. Na verdade os empresários portugueses vivem de subsídios e apoios públicos, de impostos nulos ou baixos e de um sistema de baixos salários imposto pela legislação laboral que dificulta a contratação coletiva e a liberdade sindical. Sem este apoio político estatal os empresários teriam de fazer pela vida em termos de competitividade económica. Assim vivem sem fazer praticamente nada a não ser produzir uma catadupa incessante de auto elogios.
Os incentivos errados levam a que na sociedade seja mais fácil mobilizar o poder político a seu favor do que produzir trabalho sério.
Portugal teve uma empresa que hoje poderia, se o seu crescimento e expansão não tivessem sido abruptamente travados, estar hoje nas 500 maiores do mundo: o Banco Comercial Português.
O BCP dirigido por um gestor excecional conseguiu reunir uma equipa competente e motivada e, em duas décadas, passou de uma start up incipiente a empresa multinacional consistente presente em vários continentes e geografias. Parecia uma questão de tempo até chegar à lista da Fortune.
Mas aí as pressões políticas foram mais fortes do que a cultura fundacional: incompetentes de famílias importantes ou de filiação partidária foram substituindo os profissionais competentes, o impulsopara fora foi travado, foram convidados a entrar novos acionistas afetos ao poder político e a empresas da esfera pública ou semi pública. O Eng., fundador e alma da instituição, foi sacrificado e afastado sem respeito pela sua obra. Finalmente o projeto inicial foi substituído por outro visando acabar com a internacionalização e diminuir o tamanho da empresa em Portugal. Acabou a possibilidade de crescer e chegar às 500 maiores. O BCP foi posto no seu lugar. Hoje é uma empresa de capital chinês.
Em Espanha por essa altura vários bancos estavam na mesma rota de crescimento. Hoje o Santander e o BBVA estão entre as 500 maiores do Mundo. Eis a diferença.
Para finalizar apenas destacar que a China surge nesta lista com 135 empresas. Apenas menos uma do que os Estados Unidos. Não surpreenderia que em poucos anos lidere a lista. O que surpreenderia muito seria se Portugal entrasse na lista. Mas isso por ora está fora de causa. Infelizmente.