Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

O Le Monde anuncia que o governo francês, do Presidente Emmanuel Macron, um político liberal de centro-direita, vai opor-se à venda da sociedade Segault à empresa norte-americana Flowserve Corporation.

Que razão está por trás desta decisão política? Trata-se de uma grande empresa? De uma multinacional? De uma empresa chave na economia francesa? A resposta a todas estas perguntas é não. Na verdade estamos em presença de uma pequena empresa que emprega menos de 100 trabalhadores, sediada na pequena localidade de Mennecy, um concelho com menos de 20.000 habitantes.

A Segault produz torneiras. Mas são torneiras especiais usadas nas caldeiras dos submarinos nucleares e nas centrais nucleares francesas. A decisão baseia-se, pois, em dois motivos: a segurança nacional e a necessidade de manter secreta a tecnologia.

A segurança nacional pressupõe que estas torneiras não sejam importadas mas, antes, fabricadas em solo francês. Para evitar vulnerabilidades. Para evitar sanções impostas por terceiros à sua venda à França.

Por outro lado, pretende-se manter secreta a tecnologia de fabrico destas torneiras especiais, evitando que outros as possam fabricar, mantendo a França uma vantagem competitiva.

As sanções à Rússia, a guerra dos chips entre a China e os Estados Unidos, a escalada das tarifas alfandegárias entre esses dois países, as políticas de reindustrialização, de desacoplamento ou de redução de risco (de-risking) dos Estados Unidos e da União Europeia face à China, anunciam o fim do liberalismo e o regresso ao protecionismo.

Incapazes de competir com a China, temendo a emergência económica dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul), os Estados Unidos e a União Europeia, estão a fechar as suas economias com o pretexto da segurança. Estão a levantar, de novo, o protecionismo alfandegário e político. Um novo desenho da globalização está a nascer sob os nossos olhos.

O velho desenho unipolar acabou nos campos de batalha da Ucrânia e com a pobreza crescente da classe operária americana, a que Trump deu voz, e os Estados Unidos foram obrigados a retrair-se. As políticas de abertura de mercados estão a dar lugar ao fechamento dos mercados, a um controlo apertado das importações e a uma subsidiação crescente das empresas nacionais. Quer a União Europeia, quer alguns países no seu seio como a França, estão a seguir as pisadas americanas.

Num momento como este Portugal encontra-se excessivamente vulnerável. A sua economia é demasiado aberta. As principais empresas que atuam em Portugal são estrangeiras. O abastecimento estratégico do nosso país não é assegurado por produção nacional em solo português. Dependemos excessivamente de importações.

Torna-se urgente uma nova estratégia nacional, que trace um rumo adequado para esta nova fase histórica que se esta a desenhar no quadro das relações internacionais. Um plano que conjugue essencialmente a vertente económica com a segurança e a independência estratégica do nosso país.