Jorge Fonseca Almeida, Dinheiro Vivo

O país vai empobrecendo alegremente, os nossos concorrentes vão-nos ultrapassando e até a Roménia, que continua um país pobre, já está à nossa frente. Os portugueses mais capazes e mais industriosos continuam a emigrar. E que faz o Governo e a oposição? Interrogam-se sobre a forma de ultrapassar este declínio? Discutem acaloradamente estratégias de inversão desta lenta derrapagem para o fundo? Apresentam soluções que entusiasmem os portugueses e infundam esperança nos jovens?

Não, Governo, oposição de direita e o presidente da República, em uníssono, concentram-se numa lamentável cena, demonstrativa da falta de nível do pessoal político dos partidos do antigo arco da governação (PS-PSD), ocorrida num ministério envolvendo segundo o ministro violência e roubo. Uma situação que deveria ser resolvida de uma penada, com o afastamento de todos os envolvidos, arrasta-se e concentra todas as atenções durante semanas. Péssimo para o país.

A direita acusa o governo de não governar e de estar enredado em casos e casinhos, mas estes casos e casinhos, absolutamente secundários e insignificantes (como o do ministro da Saúde, como agora o do SIS e tantos outros) têm sido suscitados exactamente pela oposição de direita. Pelos vistos é a direita que não deixa o governo fazer o seu trabalho. Fazer o mal e a caramunha. Não resulta, todos o vêm.

Na verdade tanto o PS como o PSD recorrem aos casos e casinhos para nos distrair do essencial: que ambos estão esgotados, sem ideias e sem forças fazer avançar o país. Não têm soluções para o empobrecimento do país, não sabem como estancar a emigração, aceitam a falta de habitação, combatem a inflação com a estagnação dos salários, têm respostas erradas para a seca e para os agricultores, não têm respostas nem soluções para as famílias ou a generalidade das empresas, que são micro ou pequenas.

Estranhamente as alternativas surgem à esquerda do PS, quer com a CDU quer o BE a apresentar ideias e projectos coerentes e alternativos às políticas do Partido Socialista. Curiosamente são estes partidos que menos se têm envolvido na discussão acalorada, mas inútil e perniciosa, dos casos e casinhos.

O BCE subiu de novo as taxas de juro, mais famílias vão ter dificuldades em pagar as prestações, mais famílias serão despejadas das suas casas, mais empresas terão dificuldades em fazer face ao serviço da dívida, mais projectos irão para a gaveta por causa dos custos de financiamento, mas o país discute se João Galamba tem ou não credibilidade para ser o interlocutor na privatização da TAP.

Na verdade a questão de fundo é outra. Deve a TAP ser ou não privatizada? Novamente da direita não surgem alternativas, apenas à esquerda do PS surgem ideias diferentes. Deve a TAP ser privatizada agora que pode ser lucrativa para da próxima vez que tiver problemas ser nacionalizada para os contribuintes pagarem de novo a factura à custa do seu serviço de saúde ou de restrições na educação (é que o dinheiro não cai do céu e se vai para a TAP não vai para outros lados)?

O que precisamos neste momento é que o governo e a oposição de direita cessem a inútil discussão de casos e casinhos que, a ambos, paralisam, criem um mecanismo de resolução rápida desses casos e casinhos, e se concentrem na procura de soluções que tirem o país deste lamentável declínio e estagnação. Que oiçam as ideias diferentes que surgem de partidos como o PAN e a CDU e mesmo da IL para que depois os portugueses saberem que caminho escolher.