Jorge Fonseca Almeida, Dinheiro Vivo

Por toda a Europa se ouve o mesmo argumento: aceitem ser mais pobres. E no entanto, a verdade, é que apenas os grupos que aceitarem ser mais pobres se tornarão efetivamente mais pobres.

O economista-chefe do Banco de Inglaterra veio a terreiro informar os grevistas ingleses que precisam aceitar que estão agora mais pobres e que não há nada a fazer. De acordo com este responsável a inflação só pode ser travada se as pessoas aceitarem o empobrecimento sem procurar recuperar o poder de compra perdido.

Por toda a Europa se ouve o mesmo argumento: aceitem ser mais pobres. E no entanto, a verdade, é que apenas os grupos que aceitarem ser mais pobres se tornarão efetivamente mais pobres.

Os comerciantes que aumentam os preços passando a inflação para os consumidores, os industriais que refletem os novos custos nos seus preços de venda, os trabalhadores que conseguem ajustar os salários à inflação, não se tornarão mais pobres. Só aqueles que aceitem a sua sorte sem procurar contrariá-la empobrecerão.

O apelo do economista-chefe insere-se neste jogo em que cada grupo tenta passar a batata quente, ie a inflação, para outros. O que ele vem dizer é que a batata quente deve acabar nas mãos dos trabalhadores. Naturalmente que estes pensam de outro modo e a onda de greves prossegue um pouco por toda a Europa (Reino Unido, França, Alemanha, etc., etc.).

Em Portugal esse empobrecimento está a fazer-se através dos salários, conseguindo comerciantes e industriais salvaguardar as suas posições. As greves são poucas e os trabalhadores, aparentemente, preferem seguir o conselho do economista-chefe e aceitar. O resultado é um país cada vez mais envelhecido e empobrecido. Envelhecido pela saída para a emigração de jovens e adultos em idade de trabalhar, empobrecimento pelo poder de compra cada vez menor dos salários.

As causas deste surto inflacionista radicam no aumento do custo da energia, causado pela recusa dos países europeus de comprar gás à Rússia, e pela dissociação com a China que implica o fabrico de produtos no Ocidente. São duas decisões políticas desastrosas, instigadas pelos Estados Unidos, que estão a levar os europeus ao empobrecimento.

O próprio economista-chefe do Banco de Inglaterra identificou o aumento do custo do gás como uma das principais causas da inflação.

As camadas de menores rendimentos são as que estão a ser cada vez mais prejudicadas. Como o sabemos? Porque estas camadas gastam uma grande fatia dos seus magros rendimentos em alimentação e a inflação nos alimentos é muito superior à inflação geral.

Mas há também uma inflação causada pela especulação. Inflação criada pelo aumento dos preços muito acima do aumento dos custos.

Os economistas cunharam recentemente um novo termo: o "greedflation", isto é a inflação causada pela ganância das empresas que aumentam os preços para além do aumento dos custos que tiveram. Como o termo parece ainda não ter chegado ao vocabulário dos decisores em Portugal proponho que seja traduzido para ganânciaflação.

O IVA zero não resultou. A Deco já o confirmou. É preciso atuar contra a ganânciaflação. Para que uns poucos não enriqueçam ainda mais com o empobrecimento e a fome dos outros.