Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

Macron parece um presidente perdido, sem rumo, sem estratégia nacional ou internacional. No plano interno teima em levar adiante uma gravosa alteração da idade de reforma esmagadoramente rejeitada pela sociedade francesa, incluindo pelo seu próprio eleitorado. No plano internacional não percebeu que, após o início da guerra pela Ucrânia entre os americanos e os russos, a França e a União Europeia perderam toda a liberdade estratégica e se tornaram meros satélites sem voz dos Estados Unidos.

Depois da ida recente a Washington do chanceler alemão Olaf Scholz afirmar que participa nesta guerra sob a liderança do presidente Biden, as esperanças da União Europeia com liberdade estratégica em relação aos Estados Unidos esfumaram-se. Macron aparentemente não o percebeu.
Afastado de África pelos erros das suas tropas e por alianças erradas, Macron tentou na China retornar ao tema do papel relevante da França no mundo, mas fracassou em toda a linha. Primeiro a União Europeia o obrigou a levar consigo Ursula von der Leyen, a mais pró-americana das dirigentes europeias, que aí chegada proferiu uma série de declarações contrárias ao discurso de Macron, menorizando e anulando a sua posição.
Em resposta às declarações de Macron sobre a guerra pela Ucrânia, Xi Jinping mostrou-se disponível para emitir uma declaração conjunta com a França apelando à Paz. Naturalmente, Macron meteu a viola no saco, pois não poderia assinar tal declaração enquanto a França como membro da NATO estiver envolvida na guerra.
Na sua recente visita à Holanda, Macron insistiu na soberania europeia e na necessidade da Europa construir as regras (de conduta internacional) em vez de seguir as regras (impostas pelos outros) e defendeu a autonomia estratégica da Europa.
Interessante e significativo que na visita à China Macron tenha assinado um acordo de cooperação relativo ao setor do espaço. Recorde-se que a França chegou a estar conjuntamente com os Estados Unidos e a Rússia nas posições cimeiras da exploração espacial. Mas os fracassos sucessivos do seu foguetão Ariane colocaram a França numa situação de atraso e marginalidade neste campo. Agora a França retoma fôlego na corrida espacial mas pela mão da China. A França vai poder participar na missão Chang 6 com destino à face oculta da Lua enviando algum equipamento a bordo do veículo chinês.
O que podemos concluir é que a França já não é o que era, e que o seu Presidente ainda não o percebeu