Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

Durante anos fez parte da grande estratégia de desenvolvimento portuguesa, repetida por sucessivos governos da direita ao PS, a transformação do porto de Sines no grande ponto de entrada de gás natural dos Estados Unidos para a União Europeia. Sustentava essa tese a localização tida pelos governantes como estratégica do nosso porto atlântico de águas profundas.

Na altura os países do centro e leste europeu abasteciam-se de gás russo pelo que o porto de Sines e o gás americano estavam fora das cogitações da União Europeia e Portugal não foi capaz por si só de construir a infraestrutura necessária, um gasoduto que partisse de Sines e fizesse a ligação à Espanha e à França.

No último ano a realidade mudou drasticamente. A Europa deixou de comprar gás à Rússia, ou fá-lo de forma marginal quando comparada com o passado, e passou a abastecer-se massivamente de gás vindo dos Estados Unidos que atingiu já 40% do total importado pela União. Dir-se-ia que nos tinha saído a sorte grande. Era a nossa grande oportunidade.

No entanto como nada preparáramos essa oportunidade passou-nos completamente ao lado. Outros, mais previdentes e de visão estratégica mais aguçada do que os nossos governantes, já tinham os portos e as infraestruturas preparadas ou facilmente ajustáveis. Assim se perdeu por incúria do governo PS uma grande oportunidade de desenvolvimento económico do nosso país. Uma oportunidade mais relevante que todo o dinheiro do PRR. Uma oportunidade que teria feito do nosso país um importante polo estratégico da indústria da energia a nível europeu.

Eis como a incúria, a incompetência, a falta de visão são mais importantes do que a localização. Qualquer localização só se torna estratégica por ação política e económica e nunca por dom da natureza. Esta é a lição que os nossos governantes desconheciam.

Falhado o projeto o Governo negociou a construção de um gasoduto para levar hidrogénio verde de Portugal para a França, passando pela Espanha. Este projeto em parte pago pelo nosso governo vai ser não um caminho de exportação de gás como seria o gasoduto do porto de Sines, mas uma forma de Portugal vir a importar o hidrogénio produzido em França e na Espanha.

Trocamos assim, por inação e incompetência, um projeto de afirmação e enriquecimento de Portugal na Europa por um de ainda maior dependência de Portugal nos seus parceiros europeus, um projeto de empobrecimento do país. Como foi possível? Que interesses se movimentaram? Como pôde passar este processo sem escrutínio público, quando o nosso futuro foi fortemente posto em causa?

Perdemos o tempo a discutir indemnizações de gestores públicos e deixamos passar as grandes oportunidades. É assim que os países se afundam.