Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

O aumento das taxas de juro, e hoje as taxas diretoras voltaram a subir 0,5%, permite aos bancos comerciais alargar a sua margem financeira e aumentar significativamente os seus lucros. Em Portugal vimos o Novo Banco triplicar os seus lucros e ultrapassar a marca dos 500 milhões de euros. Os restantes bancos também viram crescer os seus benefícios.

No entanto, a subida das taxas de juro está a colocar seriamente em risco alguns bancos com importância sistémica. O caso do Credit Suisse abalou os mercados e apesar da intervenção do banco central suíço ainda não foi reposta a confiança das bolsas no setor financeiro com as cotações a cair - a recuperação parcial que se seguiu ao anúncio da intervenção do banco nacional suíço deixou a generalidade das cotações abaixo do valor inicial.

Vejamos então os riscos. O risco da desvalorização dos ativos de taxa fixa - à medida que as taxas sobem esses ativos desvalorizam, perdem valor, a sua cotação desce. Exemplos destes ativos: as obrigações emitidas pelo Estados, as Obrigações do Tesouro. Assim uma gestão prudente que tenha constituído uma carteira de Obrigações do Tesouro alemãs ou norte-americanas vê-se agora confrontada com uma perda de valor dessa carteira. Desvalorização com impacto imediato no capital da instituição. Mas também as obrigações de taxa fixa emitidas por empresas e instituições. Assim para saber da solidez de cada banco convém saber qual a sua exposição a estes ativos. Quanto maior pior uma vez que as taxas de juro vão continuar a subir nos próximos tempos.

Também o risco da subida do crédito mal parado (NPL) face às dificuldades das famílias em pagar as prestações que vão subindo. Em Portugal esse risco vai ser atenuado pelo Estado que subsidiará os juros a pagar por certas famílias. Um apoio direto aos bancos. Veremos a sua magnitude e se será sustentável no tempo.

Finalmente o risco da desvalorização das garantias dadas por empresas e particulares. Essas garantias podem ser ativos de taxa fixa que agora estão a desvalorizar ou por imóveis que face à crise da habitação também poderão perder valor no mercado. A redução do valor das garantias tem também impacto negativo no capital dos bancos.

A acrescer a estes riscos está a retirada de grandes volumes de depósitos e outros investimentos de clientes estrangeiros (russos, chineses, indianos, sauditas, etc.) com medo de perder o seu dinheiro por sanções decretadas pelos governos europeu e norte-americano. São volumes muitas vezes muito grandes que a sua saída põe em risco a liquidez de alguns bancos. A política de usar o sistema financeiro como arma económica tem o seu preço.

Mas a saída de grandes depósitos dos bancos europeus pode também dirigir-se para os Estados Unidos e onde as taxas de remuneração são mais elevadas e o risco político (de guerra) é menor. Também aqui a competição dólar-euro pode ser prejudicial aos bancos europeus.

Em resumo: a subida das taxas de juro é, no essencial, positiva para o sistema bancário que vê alargada a sua margem financeira, mas se a gestão não reorganizar a composição do balanço, reduzindo a exposição a ativos em desvalorização ou em fuga e não reforçar ou alterar garantias, os resultados podem ser desastrosos.

Em resumo os bancos comerciais vivem uma situação favorável mas que exige uma navegação cuidadosa que deve ser orientada pelos Bancos Centrais. Para já essa atenção, com os casos que vão surgindo, não parece muito cuidada e profissional.

Para os clientes da Banca o tempo é de grande atenção aos riscos e de reivindicação do alargamento dos limites de proteção dos depositantes.