Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

Bertolt Brecht escreveu numa obra "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem". A violenta e insana guerra na Ucrânia é uma boa ilustração deste magnífico poema. Sem dúvida a Rússia é agressora e deve ser condenada veementemente pela invasão, mas a NATO que cada vez mais comprimia a Rússia também deve ser considerada fautor da guerra.

Na verdade o que é na aparência uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia no fundo não passa de mais um sangrento e dramático episódio da guerra mais geral entre os Estados Unidos e a Rússia, que tem outras erupções, menos mediáticas mas não menos mortíferas, em atividade na Síria, com centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados e no Iémen, também com centenas de milhares de mortos.

Esta guerra que se vai lastrando entre duas potências nucleares é um perigo para a Humanidade e deve ser travada. Não com sanções e escalada militar mas com negociações e com a retirada simultânea das forças russas e da Nato para uma distância mútua que assegure a Paz.

Portugal país de dimensão média, periférico e pobre e sem recursos que possam ser cobiçados, deve estudar e seguir o exemplo da Suíça, que tem com sucesso mantido, ao longo de séculos, uma política de neutralidade armada. Isto é neutralidade no campo internacional, mas com investimento nas suas forças armadas por forma a defender-se se alguém a atacar.

A Irlanda, a Suécia, a Áustria e a Finlândia são também países neutrais. A neutralidade não é um exclusivo suíço na Europa. Contudo a Suíça leva mais longe a sua neutralidade ao não pertencer à União Europeia, embora com ela mantenha boas relações e tenha acordos comerciais e de circulação de pessoas.

A Suíça leva a sério a sua neutralidade. Recentemente recusou a permissão de cruzamento do seu espaço aéreo a aviões de países da Nato que pretendiam levar armamento para entregar ao governo ucraniano.

Portugal não tem interesse em participar numa guerra entre grandes potências, em que o nosso contributo e, consequentemente, possível ganho é pequeno, mas o risco de destruição total da nossa nação grande. Não é racional para Portugal, do ponto de vista estratégico, envolver-se num tal confronto.

Sempre que nos envolvemos nas guerras entre terceiros o país foi devastado. Quando tomámos partido da Inglaterra contra a França, o país foi ocupado pelos franceses, foi palco de uma guerra entre países estrangeiros, a Rainha fugiu para o Brasil, o país foi governado durante décadas por um inglês. Quando entrámos na I Grande Guerra o país saiu enfraquecido, com uma longa crise económica que resultou na instauração da ditadura salazarista. As lições da História são claras.

A neutralidade armada ao estilo suíço parece ser a melhor solução para um país com a nossa dimensão, com a nossa população, sem atrativos que o tornem alvo num confronto de grandes potências.

A neutralidade armada exige, naturalmente, um forte investimento nas Forças Armadas para que possam defender o nosso território continental e insular, bem como as nossas águas territoriais. Exige também proteger áreas da nossa economia que nos garantam autonomia estratégica. Uma Marinha Forte é sem dúvida essencial para evitar qualquer bloqueio naval, defender as ilhas e manter a soberania nas águas portuguesas. O Oceano como se sabe é o nosso Futuro.

Neutralidade armada, um conceito que vale a pena considerar.