Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

Não tendo conseguido travar a pandemia e enfrentando atualmente a segunda vaga mais mortal da doença, a Europa prepara-se para atirar a toalha ao chão, reconhecer a derrota e assentir viver sem proteção com a doença, aceitando no fundo as dezenas de mortes diárias como um facto da vida para o qual nada há a fazer. Portugal, país de Governos sem vontade própria, seguirá o que vier decidido de Bruxelas.

Goradas as esperanças nas vacinas, que se vieram a revelar ineficazes, quer pela incapacidade de as fazer chegar a toda a população mundial, quer pela fraca proteção que conferem após escassos meses da sua toma, quer ainda pela emergência de novas estirpes do vírus para as quais não protegem, afastadas a ilusões num medicamento, o Ocidente, debilitado pela crise económica que provocou com as medidas intermitentes e inconsistentes que tomou, está cansado e desiste da erradicação da doença, optando por conviver com ela.

Assim o Covid passará de uma pandemia para uma endemia. Um doença mortal com a qual teremos de passar a conviver sem proteção, i.e. sem máscaras, sem regras de distanciamento, sem quarentenas que travem a propagação.

O mundo da endemia será assim um mundo de mortalidade acrescida, nomeadamente entre os mais velhos e os mais frágeis. A sua vida decretada sem grande valor, não valendo o esforço de contenção da doença.

Mas o mundo da endemia será também um mundo de inflação elevada, redução de salários reais, subida das taxas de juro, crise da dívida pública, austeridade.

A inflação é aqui a palavra-chave. A inflação corrói os salários, que vêm diminuído o seu poder de compra num tempo em que os sindicatos estão manietados por leis laborais neoliberais e em que muitos trabalhadores são precários. Menor poder de compra mais pobreza e mais emigração.

Inflação também significa taxas de juro mais altas, como aliás já se verifica nos Estados Unidos e como o Banco Central Europeu já anunciou. Taxas mais altas significam maiores juros a pagar pela dívida pública e, conseguintemente, maior deficit ou maior austeridade. Já sabemos por qual decidirá o Governo PS: maior austeridade. Ou seja menos dinheiro para a saúde, menos dinheiro para a educação, salários a perder poder de compra.

Assim o mundo da endemia não é um regresso a um passado pouco edílico mas a aurora de uma crise económica e social que se está lentamente a aprofundar e que acabará por rebentar.