Jorge Fonseca da Almeida, Diário de Notícias
Pelo segundo ano consecutivo Portugal recebeu a final da Liga dos Campeões a maior e mais importante competição entre clubes de futebol da Europa. Trata-se de novidade absoluta. Normalmente este jogo realiza-se em países diferentes todos os anos. Contudo com a pandemia mais nenhum país esteve interessado em receber tal final. Neste contexto o atrativo financeiro do evento reduzia-se e o risco para a saúde pública aumentava. Portugal chegou-se à frente e aceitou o que os outros não queriam. Uma decisão que nos apouca na cena internacional.
Pior este ano a final jogava-se com a presença de público entre dois clubes ingleses, cujos fans são conhecidos pela violência e pela desordem que causam por onde passam. Por isso as autoridades anunciaram que seriam contidos em bolha apertada para que não causassem distúrbios nem propagassem as novas e velhas estirpes do maligno vírus.
Sem dúvida que o Reino Unido tem já perto de 40% da população vacinada e quase 60% com uma dose tomada o que contrasta com Portugal em que apenas 17% da população está vacinada e em que parte das pessoas integrantes dos grupos de risco ainda não receberam a vacina.
Ou seja a maioria dos ingleses que vieram estão já protegidos mas podem transmitir enquanto os portugueses que os recebem estão em larga maioria vulneráveis à infeção. Assim o risco está quase todo do nosso lado.
Daí a importância da bolha depois da decisão temerária de aceitar organizar o desafio. A bolha era a estratégia de minimização dos riscos.
A responsabilidade caía por inteiro sobre o Ministério do Interior, sobre o ministro Eduardo Cabrita.
Ora a bolha revelou-se uma bolha de sabão que prontamente rebentou à menor pressão e vimos os ingleses espraiar-se pelo Porto, invadir a cidade, ocupar zonas ribeirinhas, não cumprindo regras em vigor de uso de máscara nem de distanciamento social.
O álcool corria, as rixas rebentavam, as cadeiras voavam, a Polícia esperava benevolente que tudo se acalmasse. Finalmente intervieram, com brandura e consideração. Das centenas de desordeiros prenderam a muito custo, e depois de vários polícias terem sido enviados para o hospital feridos, ... dois. Um êxito!
As imagens correm o mundo. Portugal anunciando uma bolha e esta rebentando-lhe nas mãos é mais uma humilhação pública internacional.
Depois de aceitar organizar a final em plena pandemia por dois anos seguidos, o que já não contribui positivamente para a nossa imagem, não conseguir manter as regras sanitárias com evidente risco para a sua própria população, mostra um país que parece desprezar a vida dos seus cidadãos.
O Governo esteve duplamente mal. Tirar conclusões, pedir desculpas, reforçar áreas que falharam eis o que se espera de António Costa.