Carlos Pimenta, Dinheiro Vivo (JN / DN)

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  1. Temos vivido, como todos sabem, numa época de pandemia universal causada pelo Covid, e ela tem marcado todos nós e a sociedade não apenas como uma pandemia médica, mas também como uma pandemia do medo, da suspeita e da irracionalidade, além de outras (de que eventualmente destacaríamos a pandemia económica e a noticiosa, assim como influência do passado – limitativo ou potenciador ꟷ sobre o presente). É do conjunto de muitas destas pandemias que nasce um acordo temporário entre o Estado produtor das leis, as autoridades policiais e a opinião publica, sobre as fronteiras da criminalidade.

Da multiplicidade de pandemias referidas resultam acções contraditórias, ora no mesmo espaço ora em diferentes locais, ora simultâneas ora temporalmente desfasadas. Alguns exemplos: obrigatoriedade de máscara, limitação das liberdades e a recolha obrigatória e maior disponibilidade para aceitar regulamentação governamental para evitar males maiores; assalto a lojas dirigida pelas populações conduzidas à miséria neste período; corte de estradas e impedimento de saída dos transportes públicos por parte de populações que se sentiam protegidas; ataques a hospitais e profissionais de saúde  por quem considerava que a pandemia era uma mentira  e uma forma de conspiração para matar pessoas ou de regimes ilegítimos controlar as populações.

Entretanto algumas máfias e grupos criminosos aproveitaram também a oportunidade para melhorar as suas imagens junto das populações, sem, contudo, abandonarem as suas actividades.

 

  1. Simultaneamente oportunistas, criminosos vários e a criminalidade organizada internacional aumentavam as suas principais ou novas fraudes, com grande capacidade de adaptação ao tempo e às formas de se comportarem.

Eis alguns exemplos:

  • Se existe um grande desejo de se saber se se apanhou ou não a doença, multiplicaram-se os falsos laboratórios ambulantes, cobrando no momento e desaparecendo depois;
  • Se todos querem não apanhar o vírus porque não a publicitação de falsos medicamentos de cura ou prevenção?
  • Se há limitações na aplicação das vacinas porque não os chorudos negócios de falsa ou efectiva vacinação a preços elevadíssimos (também dando para corromper quando necessário)?
  • Se a internet é indispensável à vida de muitos porque não lhes extorquir dinheiro por toda e qualquer via viável?
  • Se as compras não presenciais (pela internet) aumentaram tanto de dimensão porque não vender o que não existe, fazerem-se passar pelos correios pedindo uma ninharia ꟷ mas a vários milhões ꟷ para fingirem conseguir cumprir a sua missão?
  • Porque não aproveitar o alargamento dos utilizadores da internet e dos incautos com antigas fraudes informáticas (como o phishing)?

Porque estamos numa epidemia há novos contornos da criminalidade e novas formas (associadas a uma longa experiência passada) de fraude.

Há que redobrar os cuidados! De todos nós!