Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
Portugal não reage à adversidade, aceita-a, sofre-a, mas parece já não ter força para a combater e superar.
Há semanas do topo mundial de infeções e mortes a opinião pública não se escandaliza, a comunicação social não reage, a classe política parece paralisada sem capacidade de tomar medidas decisivas que nos tirem desta situação desastrosa. O Serviço Nacional de Saúde colapsa. As mortes excessivas batem recordes. Mas os autoelogios dos governantes sucedem-se. Os portugueses morrem aos milhares mas tudo corre pelo melhor.
Ao fim de um mês sabe-se que foram vacinadas 100 mil pessoas, cerca de 1% da população, a continuar este ritmo levaremos 100 meses a vacinar o país, mais de 8 anos! Mas as autoridades garantem que tudo está bem, todos acenam que sim com a cabeça.
A vacina mais barata, a da AstraZeneca não funciona em pessoas com mais de 55 anos e não tem efeito sobre as novas variantes que se estão a tornar dominantes. Não faz mal à falta de outra podemos aplica-la mesmos nos grupos mais velhos. E ninguém se ri. E que tal inocular as pessoas com a vacina do sarampo? Pelo menos protege-nos de uma doença mortífera e, seguindo a lógica da batata oficial, "nada prova" que não proteja contra o Covid (uma vez que ninguém com juízo testou esta hipótese).
Soubemos que o ano passado tivemos a maior recessão desde que há memória contabilística. Um desastre terrível que pagaremos em fome, pobreza e emigração dos mais ousados. Mas realçamos a resiliência da economia, sem perceber que verdadeira resiliência foi a da China que não só não teve recessão como conseguiu um crescimento económico num ano muito difícil. Ficamos no fundo contentes por ter sido só a pior recessão!
As estatísticas europeias mostram que temos o segundo mais baixo salário horário da União Europeia. Quedamos mudos, podemos resmungar, mas nada se faz para contrariar esta tendência. Calamos os sindicatos. Há quanto tempo não vemos um sindicalista na televisão? Há quanto tempo não ouvimos a palavra "operário" ou damos a palavra a um membro dessa classe?
Uma cultura de subserviência em relação aos governantes, um respeito exagerado pela autoridade, pelo chefe, um negacionismo permanente dos problemas, uma recusa da cidadania adulta, uma autocensura tão perniciosa como a antiga censura, têm vindo a destruir a vitalidade da nossa sociedade, a paralisá-la, a torna-la incapaz de reagir ao mais simples desafio.
Um presidente é reeleito por escassos 24% (61% dos votos dos 40% de votantes) dos eleitores e é aclamado como o líder mais popular do mundo.
O regime democrático parece esgotado. Será capaz de se reformar? Procuram-se alternativas.