Jorge Fonseca de Almeida, Diário de Notícias
A pandemia veio revelar grandes diferenças entre países e regiões quando é necessário recorrer ao teletrabalho para assegurar que o maior número possível de pessoas fica em quarentena.
De acordo com o Financial Times no Luxemburgo a maioria dos empregos é transferível para teletrabalho enquanto na Itália e na Espanha o rácio desce para um em cada três e no México e na Turquia apenas um em cada cinco empregos pode entrar em teletrabalho. Nos Estados Unidos estudos apontam para 37% dos empregos. Para Portugal não são conhecidos os números mas serão, provavelmente, próximos dos do México e da Turquia.
A estrutura setorial e tecnológica da indústria e dos serviços, bem como o perfil demográfico e educativo das populações ditam em conjunto quais as tarefas que podem ser transferidas para teletrabalho.
Quanto mais menos desenvolvida uma sociedade menor a percentagem de trabalhadores passiveis de transferência para teletrabalho de forma eficiente.
Sociedades, como a portuguesa, com uma população numerosa em indústrias tradicionais como o têxtil e os sapatos executando um trabalho essencialmente manual só com grandes prejuízos podem confinar. Sociedades mais assentes na economia do conhecimento e em que muitas das tarefas manuais são executadas noutros países podem confinar com mais facilidade.
O grau de digitalização da economia é também fundamental. Muitas tarefas que teoricamente poderiam ser feitas à distância acabam por não o poder ser pelo baixo nível de digitalização das empresas e dos serviços públicos. Por vezes os meios e as infraestruturas existem, mas os processos de trabalho, de gestão e controlo não acompanharam o progresso técnico e os recursos informáticos acabam por estar desaproveitados.
Algumas atividades dependem de outras. Por exemplo as limpezas de escritórios não se conseguem efetuar em teletrabalho, mas se o escritório estiver vazio então elas deixam de ser necessárias com a mesma periodicidade e as pessoas que as fazem podem, com a devida compensação, estar confinadas. Se pelo contrário as atividades levadas a cabo nesse escritório têm de ser executadas presencialmente então as limpezas continuaram a ser necessárias.
No turismo a questão é a fuga dos clientes. Estando o teletrabalho posto de lado o setor paralisa mesmo sem confinamento forçado.
O ensino à distância é tecnicamente possível a partir de uma certa idade, mas ele deixa de ser eficiente se as famílias não têm equipamentos, não estão ligadas à internet, e em casa não têm alimentação, espaço apropriado nem os restantes materiais necessários. A pobreza de extratos largos da população não permite o ensino à distância das crianças mergulhadas nesse universo de carência. Mesmo grandes franjas da classe média não têm o espaço habitacional, nem os equipamentos adequados ao número de filhos que simultaneamente estão em aulas por videoconferência. O ensino à distância no nosso país é um bom caso de teletrabalho ineficiente.
Os gerentes de conta dos Bancos podem trabalhar à distância, inclusivamente com maior eficiência, mas para isso é necessário que os seus Clientes dominem os instrumentos digitais. As dificuldades dos Clientes são um obstáculo ao teletrabalho mais alargado nesta área.
Vemos assim como uma sociedade como a portuguesa tem dificuldades em confinar a população, em colocar parte significativa da economia em teletrabalho e, consequentemente, em defender-se de uma pandemia.