Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

... É altura de mudar de política. O Governo deve fazer um esforço nesse sentido. Continuar no caminho que nos colocou como o país com mais infeções diárias do mundo é, obviamente, errado e imoral. Pedir ajuda internacional, como a Itália fez, é prioritário.

Portugal atingiu, no dia 15 de janeiro, segundo uma das melhores universidades de medicina do mundo, a John Hopkins University of Medicine, o primeiro lugar mundial em novos casos de infeção pelo Corona vírus e um dos primeiros em termos de mortos. É claramente a confirmação do estrondoso e mortífero falhanço da estratégia do Governo Costa, da sua ministra Temido e da Diretora Geral da Saúde Graça Franco. Pior não é possível quando já somos o pior.PUB

Os erros do Governo sucedem-se a ritmo alucinante. Vejamos alguns: 

  • Confinamento Muito Parcial – As exceções são tantas que se não distingue o confinamento de um dia normal. Afetados dois setores: a restauração (parcialmente) e a cultura. Como exceções ao confinamento temos: todos os empregos agrícolas, industriais e da construção civil, e a maioria dos serviços e do comércio (até as floristas estão abertas). Apenas um pequeno núcleo de tarefas entra em teletrabalho. Para manter estas exceções naturalmente não se fecha o ensino nem os transportes. É pois um confinamento muito parcial que tem impacto diminuto na transmissão da doença. 
  • Plano de vacinação errado – prioridades erradas (jovens saudáveis membros das forças de segurança à frente de idosos, o grupo de maior taxa de mortalidade), e muito atrasado (como se pode ver no site da Bloomberg que acompanha a vacinação a nível mundial, - https://www.bloomberg.com/graphics/covid-vaccine-tracker-global-distribution/
  • Organização deficiente das Eleições Presidenciais – sem possibilidade de voto pelo correio e promovendo grandes aglomerações de pessoas por causa do número insuficiente de locais de voto e de mesas de voto. O apelo ao voto em pleno confinamento leva muitos a erradamente pensar que se ficar na bicha de voto é seguro então muitas outras atividades perigosas também são seguras. 
  • Reforço insuficiente do SNS – em poucas semanas os hospitais públicos entraram em colapso e as unidades de cuidados intensivos ficaram cheias. As atenções estão completamente centradas no Covid e as restantes doenças deixaram de ser tratadas convenientemente – até cirurgias urgentes foram adiadas. Quantas mortes não covid teremos a mais? Sem equipamentos e sem pessoal o SNS não consegue responder e estamos desprotegidos. 
  • Compra de vacinas erradas – aposta na vacina da Asta Zeneca que ainda não foi aprovado fora do Reino Unido e que garante um nível de proteção muito mais baixo do que as concorrentes principais. 
  • Não deteção das variantes em circulação – Soubemos que a variante brasileira circula entre nós quando o Reino Unido proibiu a entrada de portugueses por causa dessa nova estirpe. 
  • Campanhas de alerta com pouco impacto e informação limitada. Um grupo muito alargado de portugueses não teme a doença e não se protege adequadamente. 
  • Reduzida fiscalização das infrações, nomeadamente do uso obrigatório de máscara nos locais públicos. O número de pessoas sem máscaras é enorme. Ainda maior é o número dos que pensam que com máscara não é preciso manter o distanciamento. 
  • Lançamento de uma APP inútil – apesar da pompa e circunstância do seu lançamento a APP portuguesa revelou-se completamente inútil. 
  • Deficiente acompanhamento dos infetados. Muitas pessoas infetadas revelam que nunca foram contactadas pelos serviços de saúde, encontrando-se entregues a si próprias e não sabendo como agir. Muitos sem alternativa do que continuar com a sua vida, infetando outros. 
  • Apoios empresariais e sociais insuficientes e tardios. Esta situação impele as pessoas, por motivos de sobrevivência, a prosseguir as suas rotinas laborais expondo-se e expondo outros. É a principal razão da oposição aos confinamentos e às medidas de restrição de circulação. 
  • Deficiente preparação e regulação das festas natalícias e de Ano Novo, levando a uma explosão de novos casos e de mortos. 
  • Recusa de usar a requisição civil dos hospitais privados num momento em que os públicos deixam as pessoas em ambulâncias porque já esgotaram a sua capacidade de admissão. São as imagens do que vimos em Itália no início da pandemia. 

Sentindo-se desorientado o Governo lança agora o anátema sobre os portugueses fazendo-os passar por culpados dos erros governamentais. O Natal já esgotou há muito o seu efeito pernicioso em termos de novas infeções mas os números não baixam.

Até ao dia 18 de janeiro de 2021 o muito credível site Statista (https://www.statista.com/statistics/1174594/covid19-case-rate-select-countries-worldwide/) mostrava que por milhão de habitantes a taxa de Covid portuguesa era a 5ª maior do mundo, muito pior do que a Suécia, o Brasil ou a Itália.

Com a pandemia descontrolada e com o SNS em colapso a economia não consegue reagir. Quem vai investir num momento em que o dia de amanhã é incerto. Depois do desastre de 2020, o corrente ano vai pelo mesmo caminho. Como aqui sempre argumentamos defender a economia é defender a saúde. É altura de mudar de política. O Governo deve fazer um esforço nesse sentido. Continuar no caminho que nos colocou como o país com mais infeções diárias do mundo é, obviamente, errado e imoral. Pedir ajuda internacional, como a Itália fez, é prioritário.