Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo (JN / DN)

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Na frente económica Portugal continua a somar derrotas quando enfrenta a Espanha e a deixar-se ficar cada vez mais para trás.

Primeiro uma pequena nota sobre máscaras. No início da pandemia Portugal não tinha stocks destas proteções faciais e o Governo Costa assumiu a ridícula tese de que não serviam para nada e poderiam até ser perigosas. Depois, pela pressão internacional, acabou por decretar o seu uso obrigatório.

Mas os políticos foram mais longe gabaram-se que a nossa indústria têxtil, cheia de resiliência estava, com a esclarecida ajuda estatal, a reconverter parte da sua capacidade produtiva parada com a crise para produzir máscaras.

Acreditando ingenuamente nestas patranhas dirigi-me a uma farmácia e pedi máscaras portuguesas. Riram-se de mim. Só tinham máscaras chinesas, que esses sim tinham reconvertido rapidamente parte das suas fábricas e inundavam agora os mercados mundiais. A situação mantém-se. Se hoje nos podemos proteger com máscaras devemo-lo à China.

Voltemos à Espanha. Na corrida à fabricação de vacinas Portugal defendeu a independência estratégica da Europa, ou seja a sua fabricação em território europeu com a esperança que viessem a ser feitas no nosso país. O plano estratégico nacional tem mesmo várias páginas sobre a indústria farmacêutica. Uma grande oportunidade que se abria.

O que aconteceu? Vitória. A União Europeia embarcou nessa tese. A Pfizer, americana, não. Lançou-se na fabricação com um parceiro ...

chinês e foi a primeira a chegar ao mercado. O Reino Unido e os Estados Unidos já vacinaram milhões de pessoas e a União Europeia zero.

Mas vamos ganhar empregos qualificados a produzir vacinas. O Governo esteve bem, atrasamos um pouco a vacinação, morreram umas centenas de portugueses a mais, mas teremos produção de vacinas em Portugal.

As vacinas estão quase prontas a distribuir e não vislumbramos nenhum investimento nesta área. Estarão a ser produzidas noutro lado? Onde? Um pouco por todo o lado na União exceto ... em Portugal.

Só em Espanha três fábricas produzem vacinas contra o Covid-19. Não uma, não duas, mas três. Afinal podemos ficar satisfeitos que o nosso sacrifício não foi em vão. Milhares de empregos foram criados na Europa e podemos aproveitá-los. Só temos que emigrar. E nem sequer para muito longe. Basta atravessar a fronteira. Espanha 1 - Portugal 0.

A Espanha produzirá também seringas, que serão necessárias aos milhões para a vacinação da população. Espanha 2 - Portugal 0.

Interessante também notar que depois de uma pré-compra exagerada e sem sentido de vacinas da Astra-Zeneca, esta última continua com dificuldades porque a sua eficácia é extremamente baixa. Numa última tentativa de conseguir aprovação a Astra-Zeneca aliou-se aos russos da Sputnik V. Exatamente os russos que a nossa comunicação social execrava e nos alertava para os perigos dessa vacina. Ironias do destino. Será a vacina que muitos desses jornalistas tomarão.

Está também de parabéns o nosso Governo pelo aumento muito moderado do salário mínimo nacional que passará em 2021 para os 665 € mensais. Em Espanha será de 1.000€ e está prometido chegar em breve aos 1.200€. Somos portanto mais competitivos. Ou será mais pobres? Espanha 3 - Portugal 0.

Igualmente interessante verificar que a histórica herdade da Torre Bela é, hoje, explorada por espanhóis. É uma coutada de caça de espanhóis para clientes espanhóis. Em território nacional. A superioridade económica dos nossos vizinhos permite-lhes ir adquirindo ativos em Portugal e pouco a pouco dominando completamente a nossa economia, dos bancos às coutadas de caça. Espanha 4 - Portugal 0.

Uma goleada das antigas. Será altura de mudar de estratégia?