Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo (JN / DN)

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Para que serve a TAP? Qual a sua missão? Que tipo de empresa deve ser? A estas perguntas o principal acionista não responde, limitando-se a dizer o óbvio que a empresa é muito importante para o país.

Para a missão da empresa costumam os políticos portugueses aduzir as seguintes opiniões, a TAP é: i) precisa pelo prestígio internacional de ter uma companhia de bandeira; ii) necessária para ligar o país à sua diáspora, iii) indispensável por razões de abastecimento estratégico em caso de catástrofe; iv) útil para apoiar o Turismo nacional e v) imprescindível para conectar o país.

Se é pelo prestígio internacional Portugal devia ter uma companhia pequena e de elevado nível de serviço. Não é este o modelo da TAP.

Se é pela diáspora o modelo da TAP deveria ser outro. Na verdade grande parte da diáspora portuguesa na Europa que vem a Portugal utiliza o carro, não viajando de avião. Para os servir seria necessário uma companhia do tipo low cost que competisse com o gasto da vinda em automóvel. As diásporas mais longínquas nos Estados Unidos, Venezuela e África do Sul regressam muito poucas vezes pelo que essas ligações deveriam ser revistas em função das necessidades efetivas.

Para abastecimento estratégico do país seria melhor guarnecer a Força Aérea com os aviões necessários, pois numa tal situação estariam em melhores condições de atuar do que uma companhia civil.

Para apoiar o Turismo nacional, isto é a entrada e saída de turistas. O número de turistas portugueses, se bem que crescente, é baixo. São conhecidas as estatísticas de que metade dos portugueses não sai de casa nas férias por incapacidade económica e que o número dos que vão para o estrangeiro é pequeno e boa parte utiliza companhias de baixo custo. Por outro lado para vir passar férias a Portugal a maioria dos turistas usa outras companhias aéreas que não a TAP. Para concorrer eficazmente neste segmento seria necessário outro modelo de empresa.

Para ligar o país, nomeadamente as grandes cidades nacionais, a TAP necessitaria de outro modelo, porque na verdade está a concorrer com o carro e o comboio. De facto tirando o Porto, a TAP pouca atenção presta à ligação entre as principais cidades portuguesas. Veja-se os casos de Coimbra, Aveiro ou Braga, ou mesmo Beja (que até dispõe de um aeroporto que custou milhões).

Para a ligação com as regiões autónomas existe a SATA, especializada no mercado açoriano, mas que poderia alargar a sua atuação à Madeira.

Em suma procurando ser tudo a TAP acaba por não ser nada, isto é não servir adequadamente nenhum dos serviços públicos indispensáveis.

Talvez a melhor solução fosse a reorganização da empresa constituindo uma holding geral e criando companhias subsidiárias com o modelo económico adequado a cada uma das suas funções. Cada companhia poderia especializar-se no seu mercado, dotar-se dos recursos necessários, responsabilizar-se pelos seus resultados e crescer. Nesse caso talvez em vez de despedimentos a TAP necessitasse de investimentos que lhe permitissem servir os seus múltiplos propósitos de forma eficaz.

Sem esse enfoque a TAP continuará a perder dinheiro, a afundar-se, a minguar e a periodicamente custar aos contribuintes os olhos da cara.