Uma das armas negociais da União Europeia consistia nos múltiplos acordos comerciais com países terceiros. Ao sair da União o Reino Unido perderia o acesso a esses mercados nas condições favoráveis existentes. Acontece que desde que o Brexit foi aprovado em referendo o Reino Unido já assinou acordos bilaterais com a grande maioria desses países nas mesmas condições ou em condições mais adaptadas aos britânicos. Lá se foi uma vantagem negocial.
Portugal é dos países mais prejudicados pelo Brexit, desde logo pelo turismo, mas também pelo conjunto de empresas inglesas a laborar em Portugal que poderão num cenário de não-acordo ter um incentivo negativo, em termos de direitos alfandegários e outros, de permanecer no nosso país. Que está a ser feito para reter essas empresas?
A sua saída no meio de uma crise provocada por uma gestão desastrosa da pandemia, não poderia ser pior. Uma crise que terá um ritmo de recuperação lento e complexo e com muitas baixas, em termos de empresas, pelo caminho.
E para piorar a situação alguns milhares de portugueses a residir no Reino Unido viram a permanência ser-lhes negada. O retorno a uma pátria em crise?
Esta semana muitos compradores portugueses da Amazon do Reino Unido receberam uma mensagem alertando-os que a partir de janeiro muito provavelmente os artigos que comprarem serão sujeitos a direitos alfandegários e poderão ser inspecionados pelas Alfandegas portuguesas, o que demorará a entrega. Para a Amazon, multinacional norte-americana, tal não constitui qualquer problema uma vez que existem mais lojas da marca na Europa. O consumidor português que gosta da Amazon.co.uk esse sim tem um problema, ou passa a comprar noutra loja ou terá de suportar um custo adicional que é uma receita da União Europeia.
Neste mar agitado Portugal parece navegar à deriva levado pelas ondas alterosas da política internacional onde a nossa voz parece não se fazer ouvir. Uma coisa tenho contudo como certa, o nosso interesse nacional permanece mais próximo do Reino Unido do que da Espanha ou da Alemanha.