Carlos Pimenta, Dinheiro Vivo (JN / DN)

A ignorância, a condescendência e a negligência face à proliferação da fraude é co-responsável da sua crescente importância.

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A ACFE (Association of Certified Fraud Examiners), associação com sede em Autin, Texas, Estados Unidos da América, é a principal organização de especialistas na promoção de políticas anti-fraude (apresentação de provas para condenação, detecção e prevenção) nas empresas. Embora a sua principal base geográfica seja os EUA, as noventa e cinco delegações espalhadas por todo o mundo, constituídas por seus especialistas, dão-lhe uma representação crescentemente internacional.

Na Europa tem vinte e seis delegações «cobrindo» vinte e cinco países. Diga-se, de passagem, que no nosso não existe nenhuma delegação e a responsabilidade desta ignomínia é exclusivamente nossa, de cidadãos e de empresas.

Há quase duas décadas que publica informações sobre a manifestação das fraudes nas empresas com base num inquérito realizado entre os seus associados e numa sua tipificação (árvore da fraude) agrupadas em três grandes ramos da «fraude e abuso ocupacionais»: corrupção, apropriação indevida de activos e relatórios de contas fraudulentos.

A sua crescente representação internacional, apesar de uma cobertura menor que no seu país de origem e no Canadá, tornou viável que o seu estudo em 2018 (https://s3-us-west-2.amazonaws.com/acfepublic/2018-report-to-the-nations.pdf), se refira especificamente a 9 regiões do mundo, sendo uma delas a Europa Ocidental. Consideram-se, neste espaço, 130 casos, abrangendo 16 países.

Apesar dos dados não reflectirem a enorme importância criminal da Europa no branqueamento de capitais (intensificado com o  Patriotic Act americano de 2001), nos offshores europeus e mundiais e no crime organizado transnacional ‒ pois quase não reporta a casos de relatórios fraudulentos, que habitualmente são as mais importantes quanto aos valores envolvidos ‒, são interessantes algumas informações:

  • O valor mediano das fraudes foi de 200.000 dólares e a sua duração mediana antes de debelada foi de 24 meses, o que alerta para a importância da atenção que deve ser atribuída ao tema e à prevenção da fraude.
  • Apesar das limitações da amostra anteriormente referidas, são os empregados que cometem fraude mais frequentemente, mas são os executivos/proprietários que as cometem em maior valor (com a mediana 5,5 vezes maior).

A Europa tem de aprender que a fraude é um acontecimento grave que afecta a economia, a democracia e a ética vigentes. Tem de aprender que a ignorância, a condescendência, a negligência face à sua proliferação é co-responsável da sua crescente importância. Da fraude ocupacional e de todas as outras.