João Pedro Martins, Jornal i
Há nove milhões de escravos que atravessam as fronteiras ou que são traficados no seu próprio país.
O tráfico de pessoas é o negócio ilegal que mais floresce no mundo do crime organizado e que gera rendimentos superiores ao contrabando de armas e de pedras preciosas, sendo apenas superado pelo tráfico de droga.
Estas pessoas são mártires da fraude e levadas contra a sua vontade. Muitos são vendidos e exportados como mercadoria para se tornarem escravos. Uns são explorados no mercado do sexo, na mendicidade das grandes cidades ou na remoção e comércio de órgãos que alimentam de carne fresca as clínicas gourmet. Há crianças que são leiloadas para adoção, outras que são transformadas em noivas-infantis ou que simplesmente se escondem no silêncio da escuridão das fábricas de suor na Ásia. Há aqueles que são distribuídos para circos itinerantes, para trabalhos agrícolas nos montes alentejanos ou para simples servidão doméstica.
As vítimas são coagidas e sofrem repetidos abusos físicos e emocionais. Experimentam o medo, a tortura e a chantagem, muitas vezes com ameaças à família. Os lucros anuais deste negócio hediondo ultrapassa 30 mil milhões de dólares.
Quase duzentos anos depois do tráfico de escravos negros ter sido abolido no império inglês, após a campanha de 26 anos que William Wilbeforce promoveu na Câmara dos Lordes. Depois do sonho de Martin Luther King ter levado milhares de negros a marchar pelo direito de voto e pela não discriminação racial no trabalho, pela justiça económica, a luta contra a pobreza e outros direitos civis que estavam interditos à comunidade negra norte-americana. Depois de Nelson Mandela ter passado 27 anos isolado num cárcere e derrubado o regime do apartheid. E depois de entrarmos no século XXI, Portugal continua a ser um destino e um ponto de passagem do tráfico de seres humanos.
Homens, mulheres e crianças são escravizados em Portugal. Escondem-se das estatísticas e vivem no silêncio da dor. Chegam do leste da Europa para as vindimas e a apanha da azeitona e acabam sem documentos e sem futuro. Vivem na mendicidade das grandes cidades. Embarcam em aviões provenientes do Brasil e veem atrás do sonho de uma vida melhor, mas que se transforma em pesadelo na noite das casas de alterne ou das estradas sem luz.
Os novos escravos são também os idosos que passam fome e foram empurrados para a mendicidade por não terem dinheiro para pagar medicamentos. São as mulheres que foram obrigadas a vender o corpo para alimentarem os filhos, depois de terem ficado sem emprego nas fábricas que fecharam, enquanto os patrões abriram novos negócios que beneficiaram de incentivos fiscais.
O economista Paul Collier escreveu que “uma pequena minoria dos banqueiros está a viver à conta dos lucros dos depósitos de dinheiro corrupto. Temos uma palavra para definir as pessoas que vivem através dos ganhos imorais de outros: proxenetas. Os banqueiros proxenetas não são melhores do que qualquer outro tipo de chulos.”
Os políticos que prometeram a redução de impostos e a criação de novos postos de trabalho, e que fizeram precisamente o contrário, são governantes proxenetas. Enquanto esta escória existir no governo e deixar o país ser colonizado por capital sujo proveniente de generais corruptos de Angola e de mafiosos russos, não os conseguimos distinguir dos chulos que têm mulheres de minissaia a vender o corpo numa rua ou num bordel.
Para muitas famílias levaram o pai Natal e deixaram as renas para continuarem a puxar o trenó.