Marcus Braga, Jornal SOL
O ato de chutar a bola e perder o gol pode ter consequências irreversíveis, mas só saberemos se o goleiro é bom se chutarmos
O ano de 2025 marca no Brasil a comemoração dos oitenta anos de Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha, cantor e compositor brasileiro, filho do Rei do Baião, falecido em um acidente automobilístico no ano de 1991 no Estado do Paraná.
Dono de um cancioneiro vasto e diverso, destaca-se para a discussão aqui posta a música “Geraldinos e Arquibaldos”, de 1975, em especial o trecho : “Você me diz que esse goleiro é titular da seleção, mas só vou saber é quando eu chutar”, que ilustra no nosso contexto a possibilidade de o gestor público assumir riscos, situação que dialoga, inclusive, com a agenda anticorrupção.
O administrador público interage no cotidiano com os riscos que ele percebe, mas também é objeto de alertas, fruto de indicações de órgãos de auditoria e reguladores em geral, o que lhe impõe a onerosa necessidade de rever decisões, fortalecer salvaguardas, por vezes aplicar punições, e ainda, abandonar projetos, em um contexto que causa natural resistência, até por que o risco é algo que pode acontecer, e o fantasma do alarmismo sempre ronda essa discussão.
Não há o que se falar em assumir riscos diante de descumprimento de normas ou questões éticas, ainda que esses aspectos tenham vários tons de cinza, mas no mundo discricionário da gestão pública, o administrador toma, e deve tomar, decisões cotidianas para a entrega de resultados, e isso implica em lidar com riscos, enfrentando posteriormente os chamados “engenheiros de obra pronta”, a avaliarem a pertinência ou não de suas decisões.
Esse contexto complexo gera administradores conservadores em excesso nos governos, pouco ousados e inovadores, travados, burocratizados, apegados a letra das normas, temerosos de assumir riscos com uma racionalidade difusa, que pode ser substituída por outras abordagens, e nesse sentido, a discussão de gestão de riscos pode ser de extrema utilidade no processo decisório.
Risco é contexto, é conhecer as possibilidades e valorar estas pela sua magnitude, e as normas internacionais sobre o tema falam do conceito de “apetite ao risco”, ou seja, a predisposição de uma organização e de seus dirigentes em assumir certos riscos frente aos cenários e as peculiaridades do seu negócio, o que no ambiente governamental se reveste de grande peculiaridade, pelas suas próprias características de extrema regulação e de resultados por vezes difusos.
Tema complexo e que demanda aprofundamento esse do apetite ao risco dos dirigentes no setor público, mas o fato é que sem assumir riscos, temos poucos resultados e isso afeta diretamente a população beneficiária, de modo que as decisões que impliquem a assunção de riscos devem se revestir de reflexão, de estudo, fugindo de improvisos, de bravatas e de visões superficiais e enviesadas.
O ato de chutar a bola e perder o gol pode ter consequências irreversíveis, mas só saberemos se o goleiro é bom se chutarmos, e esse dilema permeia a gestão pública e privada, demandando uma reflexão não apenas dos gestores, mas também de quem os fiscaliza, na construção de exercícios de empatia, de contextualização, para que a eficiência não desapareça para dar lugar ao burocratismo, e por vezes, a injustiça.

