António João Maia, [types field="pub" class="" style=""][/types],

Uma das vertentes de maior importância da comunicação relaciona-se com o fenómeno da liderança de grupos

Na última reflexão que deixei neste espaço, na edição do passado dia 7 de Junho (A matemática? A matemática é difícil?http://www.ionline.pt/iOpiniao/matematica-matematica-dificil) procurei abordar, a partir de dois exemplos simples, a questão da importância dos discursos sociais que nos rodeiam enquanto factores com potencial de indução de maiores ou menores índices de motivação para a acção, sobretudo em relação à forma como podemos encarar e superar os problemas associados a esses mesmos discursos.

A reflexão fora-me suscitada a partir do potencial efeito negativo de desmotivação que pode ser induzido (e a meu ver, é!) nos alunos do ensino básico e secundário por um certo discurso reinante sobre a dificuldade do estudo da matemática.

Um dos elementos centrais dos estudos antropológicos prende-se precisamente com as questões relativas ao processo de comunicação, dada a centralidade que ele representa na estruturação, manutenção e desenvolvimento de toda a existência cultural e social do homem. De tais estudos tem resultado essencialmente a ideia de que é através da comunicação que o homem produz e sustenta a dimensão cultural e social que o diferencia dos restantes animais. É através da comunicação (nos povos ágrafos, tecnicamente menos desenvolvidas, apenas através da fala e, nas sociedades mais desenvolvidas, através da fala e da escrita, como refere Jack Goody (1977) em "Domestication of the Savage Mind", texto publicado entre nós em 1988, pela Editorial Presença, com o título "Domesticação do Pensamento Selvagem") que o homem produz, transmite, partilha e sustenta as suas ideias, as suas noções sobre o mundo, os seus projectos.

Por outro lado, uma das vertentes de maior importância da comunicação relaciona-se com o fenómeno da liderança de grupos, por ser precisamente uma das principais forças de que o líder dispõe para alcançar e manter a agregação dos sujeitos, a coesão do grupo em torno do projecto, bem como os índices de motivação para a sua concretização.

Porém, nestes casos, o discurso só se torna efectivo e eficaz, no sentido indicado, se for acompanhado por actos e por sinais claros que mostrem a existência de um projecto viável, exequível e importante para o grupo, e, naturalmente, de uma estratégia para a sua concretização.

De outra forma, a existência de um discurso, por mais positivo e convicto que se apresente, desacompanhado de sinais claros da existência de um projecto com aquelas características, tende, com o decurso do tempo, a tornar-se estranho e oco. Uma espécie de fraude. Os sujeitos tendem gradualmente a não se rever nele. Deixa de ser motivador para induzir precisamente um efeito contrário, de desmotivação, podendo mesmo contribuir para a desagregação do grupo e seguramente para o descrédito daqueles que proferem esses, por vezes, tão pomposos discursos?