Lúcio Pereira da Silva, Semanário Vida Económica

Texto publicado no suplemento SEGUROS do Semanário Vida Económica

A inteligência artificial (AI) está a mudar o setor segurador, especialmente na área da saúde.
Ela é a responsável por uma grande transformação na personalização das apólices. O facto de ter a capacidade de análise de quantidades exorbitantes de dados assim como o seu processamento em larga escala com a utilização de algoritmos complexos está a trazer benefícios não quantificáveis para as seguradoras e para os segurados.

A capacidade da interpretação dos dados é a base desta solução com o tratamento de informações em massa como os históricos médicos, hábitos de vida, idade e condições preexistentes. Estes dados são combinados e analisados para assim serem criadas apólices personalizadas e adaptadas às necessidades de cada indivíduo. Por exemplo, um indivíduo com propensão a doenças cardiovasculares pode ter assim acesso a uma apólice que inclui coberturas específicas para check-ups e tratamentos preventivos. Esta abordagem não só reforça a adequação das coberturas, como também aumenta a confiança e a transparência no processo.
Com esta solução as seguradoras conseguem prever os riscos de uma forma mais precisa, pois, a utilização dos algoritmos permite identificar padrões e antecipar os custos associados a tratamentos ou a intervenções médicas.
Além disso, os processos de subscrição tornam-se mais rápidos, porque são avaliadas automaticamente as elegibilidades dos clientes para os diferentes planos a contratar.
O uso de wearables, como relógios inteligentes, permite às seguradoras monitorizar indicadores de saúde em tempo real. Estas informações ajudam a criar programas de bem-estar personalizados e iniciativas preventivas, promovendo uma vida mais saudável e reduzindo o risco de doenças graves.
Assim, a experiência do cliente torna-se mais envolvente e baseada na confi ança.
Outro benefício importante é a deteção das fraudes. Esta solução como utiliza modelos preditivos e sistemas de machine learning consegue identificar comportamentos suspeitos, reduzindo os prejuízos e assim garantindo a maior segurança para todos os envolvidos no sistema. Esta precisão reflete-se também nos prémios mais justos para os segurados.
Apesar dos benefícios serem inegáveis, a aplicação da AI na personalização de apólices de saúde traz desafi os que não podem ser ignorados. A principal preocupação é a privacidade dos dados. A recolha e o processamento de informações sensíveis dos clientes exigem o cumprimento rigoroso de regulamentos como o Regulamento Geral da Proteção de Dados (RGPD). A segurança da informação terá de ser material muito importante a garantir em todo o processo.
Outro grande desafio reside na possibilidade de poder haver discriminação algorítmica. Logo se os dados utilizados para criação dos modelos de AI não forem representativos ou estiverem distorcidos, existe o risco desses algoritmos concluírem por apólices menos favoráveis a determinados grupos de pessoas. Este cenário pode criar desigualdades, comprometendo a igualdade no setor segurador.
Para mitigar os estes riscos associados é importante que as seguradoras criem práticas de transparência e garantam assim que os segurados conheçam como os dados vão ser utilizados. Além disso, os organismos reguladores devem estabelecer diretrizes claras para garantir que os algoritmos são auditados regularmente e funcionam de forma normal e legal.

O futuro dos seguros de saúde com a utilização da AI tem uma consequência direta nas apólices sendo estas mais personalizadas e efi cazes, sempre com o foco no bem-estar dos segurados.
É importante que esta solução seja auditada com base em princípios éticos e por reguladores rigorosos para que os benefícios da AI sejam completamente aproveitados sem comprometer os direitos dos segurados.
As seguradoras que conseguirem equilibrar a inovação com a responsabilidade estarão melhor posicionadas para liderar este novo capítulo no setor dos seguros de saúde.