Manuel Castelo Branco, OBEGEF
A presidência de Donald Trump, entre 2017 e 2021, foi marcada por inúmeras suspeitas de corrupção e fraude. Esta presidência foi tão danosa para a reputação dos EUA a este nível que até já se estuda o seu impacto em termos de deterioração da perceção da corrupção nos EUA.
Não é possível escrever sobre as eleições para presidente dos Estado Unidos da América (EUA) sem abordar a corrupção e os fenómenos que lhe são conexos. Desde logo, porque talvez seja o país em que o peso do dinheiro nas eleições é maior. Nas eleições de 2016, um dos concorrentes, Lawrence Lessig, tinha como principal pretensão reduzir a influência do “dinheiro” na política. Para ele, a principal consequência de tal influência foi tornar a democracia representativa tão corrupta que apenas aqueles capazes de financiar substancialmente as companhas e os candidatos conseguem ver os seus interesses representados e atendidos. Joseph Stiglitz, antigo vice-presidente e economista-chefe do Banco Mundial e laureado com o Prémio Sveriges Riksbank em Ciências Económicas em memória de Alfred Nobel (habitual, mas incorretamente designado de “prémio Nobel da Economia”) de 2001, chama a esta realidade “corrupção ao estilo americano”. É a existência deste tipo de corrupção que leva analistas tão reputados como o próprio Stiglitz e Jeffrey Sachs, Diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia e presidente da Sustainable Development Solutions Network da Organização das Nações Unidas, a sugerir que a chave para a mitigação do problema se encontra nos países mais desenvolvidos. Nestes países, a “grande” corrupção encontra-se associada ao financiamento de partidos políticos e de campanhas eleitorais, a conexões políticas empresariais (como o fenómeno da porta giratória) e ao fenómeno do lobbying. Sachs chega a afirmar, em texto muito recente (https://www.commondreams.org/opinion/corruption-of-us-foreign-policy) a propósito das guerras em Gaza e na Ucrânia, que o principal fator influenciador da política externa dos EUA são os interesses dos políticos, cujas principais preocupações se prendem com a obtenção de contribuições monetárias para as suas campanhas e empregos bem remunerados para si próprios, mas também para os seus familiares e colaboradores.
Dada a situação descrita acima, não é de admirar que sobre os EUA existam livros e documentários com o título “a melhor democracia que o dinheiro pode comprar”. Também não são de admirar as recorrentes afirmações de que os candidatos à presidência estão ao serviço dos seus principais doadores, em vez de ao serviço do povo americano. O candidato/presidente que talvez mais tenha contribuído para a má reputação das eleições é Donald Trump.
A presidência de Donald Trump, entre 2017 e 2021, foi marcada por inúmeras suspeitas de corrupção e fraude. Esta presidência foi tão danosa para a reputação dos EUA a este nível que até já se estuda o seu impacto em termos de deterioração da perceção da corrupção nos EUA, como o faz Sven Fisher no seu artigo “The impact of the Trump presidency on the perception of corruption in the United States”, publicado na revista Applied Economics Letters. Este investigador conclui que a presidência em apreço “teve um impacto significativo e crescente na perceção de corrupção no setor público dos EUA”. A verdade é que a posição deste país no Índice de Perceção da Corrupção (IPC), da Transparência Internacional, o qual se expressa na forma de um ranking, se deteriorou substancialmente entre 2017 e 2021. Tendo em conta a pontuação (um número 0 a 100, correspondendo 100 à melhor situação possível) usada para exprimir a posição dos países no IPC, os EUA passaram de 75 para 67. Em 2022 e 2023, os EUA obtiveram uma pontuação de 69.
Caso Trump ganhe as eleições, será interessante analisar o efeito do novo mandato na perceção da corrupção nos EUA. Manter-se-á a tendência ocorrida no seu último mandato? Nada no comportamento de Trump e dos seus colaboradores leva a crer que isso não aconteça.