Jorge Fonseca de Almeida, OBEGEF
A corrupção mais profunda e perigosa da alma humana acontece quando pressionados por outros fechamos os olhos às atrocidades que se desenrolam sob os nossos olhos e as colorimos com adjetivos neutros ou até positivos. Este tipo de corrupção é imposto pelo medo e obriga a sociedade a rejeitar os valores que defende, a adotar a duplicidade e a hipocrisia como normal, a negar-se vergonhosamente, a perder a sua identidade. É a corrupção como apodrecimento, como degenerescência, como decadência.
Ela tem, como sempre tem a corrupção, uma causa económica ilegítima, uma fundação nos interesses materiais mesquinhos.
Não falo da compra de um ministro por um punhado de euros para autorizar o que não pode nem deve. Não falo da fraude fiscal com a transferência dos rendimentos para paraísos fiscais. Não falo da pequena fraude de quem quer enganar a sua seguradora e receber o que lhe não pertence.
Falo de algo muito maior. Da corrupção das consciências. De esconder um genocídio de uma população de cerca de dois milhões de pessoas que vive há décadas num gueto, num território menor do que o Alentejo totalmente cercado. Mais de 5% dessa população foi, nos últimos três meses, morta, ferida ou desapareceu, a quase totalidade das suas casas foi arrasada, a água e a eletricidade cortadas, a entrada de ajuda humanitária impedida. Em comparação no, bem conhecido, genocídio do Ruanda cerca de 8% da população foi morta. E Israel está a beira de assassinar mais uns largos milhares que se concentram no último pedaço de terra de Gaza.
Esconder este genocídio que se desenrola sob os nossos olhos eis a corrupção maior. Escondê-lo sobre palavras como “guerra Israel-Hamas”, “legitima defesa”, “direito a defender-se” eis a grade fraude. Uma guerra em que quase só morrem crianças e civis não é uma guerra, é um genocídio. Frio e calculado. Todos o sabemos, poucos o dizem. Os governos nada fazem e, contudo, Israel é um país totalmente dependente do Ocidente, dos Estados Unidos e da União Europeia.
Israel não cumpre as resoluções das Nações Unidas, insulta o secretário-geral da ONU, António Guterres, viola as recentes decisões do Tribunal Internacional de Justiça, ameaça a família da ministra dos Negócios Estrangeiros da África do Sul. Tudo lhe é permitido. O criminoso entronado glorificado, protegido eis a imagem da corrupção total, do crime tornado virtude, da derrota final dos Valores Humanos.
Vender e esquecer os Direitos Humanos que todos valorizamos é a forma final de corrupção. Trocar a nossa consciência por um apoio a um país genocida, a pior degenerescência do nosso tempo. Temos de, como dizia o poera, “vir para a rua gritar”. Para que não fique na nossa consciência.