Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo
Na era da ciência, da tecnologia, do conhecimento Portugal contínua a não atingir os patamares dos seus pares e a demonstrar ao mundo, nomeadamente através dos resultados dos testes PISA, que não consegue sequer ensinar um grupo muito significativo dos seus jovens a ler, escrever e a fazer contas simples. Os níveis a que outros chegaram no século XIX ainda não foram sequer atingidos em Portugal em pleno século XXI. Boa parte da nossa geração mais qualificada de sempre é, hoje, analfabeta ou semianalfabeta.
Em termos de resultados gerais em Matemática ficámos em 29º lugar atrás de países como a Hungria, a Lituânia, a Letónia, a Estónia, a Eslovénia, a Polónia, etc. Nesse ranking os países que lideram são todos asiáticos: em primeiro Singapura, em segundo o Macau (China), em terceiro a Taiwan, em quarto Hong-Kong (China), em quinto o Japão, em sexto a Coreia. É certo ficamos à frente de países como o Uzbequistão a Albânia, as Filipinas e o Camboja, mas isso não nos deve deixar tranquilos, porque a nossa vantagem não é muito grande. Na leitura ficamos em 24º lugar e em Ciências em 30º lugar, sendo estes rankings igualmente dominados por países e territórios asiáticos.
Estes resultados confirmam uma enorme crise no Ensino em Portugal e reclamam medidas urgentes para que o nosso país possa competir a nível internacional. No mundo atual, sem uma população com qualificações modernas o país não pode sobreviver a longo prazo.
Muitos estudos, propostas, estratégias estão a ser avançadas pelos doutos políticos e especialistas que são responsáveis pelo "estado a que isto chegou". Lançam-se em grandes reformas que não funcionam, introduzem e eliminam exames, alteram os conteúdos, baralham e dão de novo. Mas ignoram os problemas mais básicos e prementes. É preciso rejeitá-los. É altura de ouvir outras vozes.
Hoje pretendo deixar aqui algumas sugestões simples e práticas:
1. Aquecer as salas de aula - como pode uma criança de 8, 9, 10, 11 anos aprender matemática se tirita de frio, se está embrulhada num casaco, aconchegada por uma manta, ou se simplesmente procura movimentar-se para manter algum calor nos dias frios do inverno português? Naturalmente estará em desvantagem com a criança polaca que está em manga curta numa sala aquecida e que só sai para o recreio já agasalhada para brincar na neve.
2. Alimentar os alunos. Muitos jovens chegam à escola depois de não terem jantado, nem tomado o pequeno-almoço. Como podem aprender se estão com fome? É, certamente, difícil.
3. Apoiar os alunos com necessidades especiais - como pode um professor ensinar a ler e a interpretar, em simultâneo, uma turma com 4,5 ou mais alunos com necessidades especiais? Assim nem uns nem outros conseguem aprender o que está ao seu alcance. Não se rejeita a possibilidade de conviverem na mesma escola, partilharem tarefas e aprendizagens a que possam aceder simultaneamente, mas insiste-se que os alunos com necessidades especiais devem também ter um ensino especial. Como pode um professor ensinar um autista profundo e outros alunos em simultâneo? O mais certo é todos ficarem prejudicados.
4. Reduzir o número de alunos por turma, nomeadamente as turmas com alunos com maiores necessidades de atenção e de apoio individual. Mas claro não me refiro à redução de 40 alunos para 30 por turma. Antes uma redução que coloque menos de 15 alunos frente a um professor.
5. Introduzir a segunda maior língua materna de alunos portugueses, e de muitos imigrantes, no ensino. Trata-se da língua cabo-verdiana que muitos estudos mostram que se ensinada a par do português permite às crianças aumentar o seu sucesso escolar. Dezenas de milhares de crianças portuguesas são privadas do seu direito básico a aprender na sua língua materna.
6. Retirar o racismo e o chauvinismo dos materiais escolares e das aprendizagens escolares. Que pode aprender um aluno Negro com a deturpação da sua História, com a ocultação do seu passado, com o insulto de o considerar uma "mercadoria", com a repetição de ideias erradas e discriminatórias?
7. Aumentar a qualidade dos professores e dos restantes profissionais (assistentes, psicólogos, bibliotecários, etc.). As profissões são mal pagas e não atraem jovens com conhecimentos, capacidades e energia. É preciso recuperar o tempo de serviço dos que se mantiveram fiéis à Escola pública, valorizar os que chegam e atrair jovem qualificados e motivados. Sem professores e sem os restantes profissionais não há Escola.
São medidas simples, nada do que sai da pena dos "especialistas" falidos, mas que se implementadas dariam um forte contributo para a melhoria do sucesso escolar das crianças e adolescentes portugueses e, consequentemente, para a perenidade no nosso país.