Jorge Fonseca de Almeida, OBEGEF

Ganha a confiança, a vítima, crédula na patranha que o criminoso lhe conta, está pronta a agir com base na falsa informação recebida. Caiu que nem um patinho na armadilha. Vai agir livremente contra o seu próprio interesse. Vai entregar os seus bens, a sua liberdade, a sua consciência, o seu apoio, o seu voto sem a menor suspeita de que está a ser enganada.

O crime de fraude baseia-se na mentira, na ilusão, no truque semântico, na falsa informação, na troca de valores. O criminoso consegue que a vítima acredite na sua patranha, que acredite na falsidade que conta.

O criminoso conta com a honestidade da vítima, com a sua candura e ingenuidade. Que pense que está no sítio do seu banco quando está a ser vitima de phishing, que pense que o burlão lhe está a passar para as mãos o bilhete premiado quando na verdade é apenas um papel sem valor, que a pedra bruta pintada de verde é uma esmeralda, que o investimento é sério. O criminoso quer que a vítima pense o contrário do que a realidade é.

O criminoso tem de a convencer a vitima de que a água é vinho, que o inocente é criminoso, que o ocupante é legitimo, que o racista é democrático, que o resistente é terrorista, que matar crianças aos milhares é legitima defesa, que destruir uma cidade de dois milhões de habitantes é a forma de lutar de acordo com a convenção de Genebra, que existe uma “guerra” em que um dos lados é um dos exércitos mais poderosos da Terra e do outro uma população desarmada e que tal confronto não é um genocídio. Tantas patranhas, tantos burlões. Tantas vítimas a convencer.

Para isso, o criminoso tem de ganhar a confiança da vítima. Tem de se mascarar, de se disfarçar. Sabemos de tantas fraudes em que o criminoso de faz passar por padre, por empresário, por médico, por jornalista, por comentador, por especialista e até por militar. Para ser mais convincente até pode ter mesmo qualquer dessas profissões. Que em todas há criminosos e burlões – característica humana bem distribuída entre as profissões.

Ganha a confiança, a vítima, crédula na patranha que o criminoso lhe conta, está pronta a agir com base na falsa informação recebida. Caiu que nem um patinho na armadilha. Vai agir livremente contra o seu próprio interesse. Vai entregar os seus bens, a sua liberdade, a sua consciência, o seu apoio, o seu voto sem a menor suspeita de que está a ser enganada.

As técnicas da fraude são conhecidas, mas apesar disso a sua eficácia mantém-se intocada.

Hoje a maior fraude que temos é televisiva. É preciso ter muito cuidado. Ninguém é imune, todos devemos estar alerta. Para não sermos enganados. Para não nos levarem a fazer e a apoiar ações que detestamos, que moralmente nos revoltam, que humanamente rejeitamos quando não estamos a ser enganados.