Pedro Moura, Expresso online
Quando a esperança se vai, pouco fica, exceto a servidão e um certo mau gosto no palato
Gasto muito tempo a discutir com amigos e conhecidos a deterioração progressiva dos serviços públicos em Portugal. Saúde, ensino, infraestruturas, justiça, a (pequena) parte da habitação que é gerida pela res publica, outras funções. O tom das conversas tende a cambiar entre o preto e o negro, sobretudo devido à pouca esperança de melhoria partilhada por todos.
A geração aqui é predominantemente entre os 40 e os 50 anos, tendo vivido os seus anos de juventude na maravilha que foi Portugal em crescimento em mudança nos anos 90 do século passado. Não é gente que tenha ingressado numa carreira de poder público, mas é gente com formação e bastante contacto com todos os sectores da sociedade, desde o PR até ao comum cidadão que anda pelo metro às 8 da manhã. É gente com filhos, que pensa no presente e no futuro, seu, dos seus e dos outros.
Mas é também gente que se sente viver num país paralisado por si próprio, acorrentado a um Adamastor de resignação e acomodamento. E que não quer (já não quer?) sair de cá, mas que com um engolir em seco admite que talvez os seus filhos venham a estar melhor se forem à sua vida para outras paragens.
E vemos um cenário político em que só quem for desajuizado de todo se sujeita ao lodo criado por anos e anos de nepotismo, concentração de poder e impunidade. A cultura vigente é de intriga palaciana, culambismo, submissão ao grupo, arrogância e, inevitavelmente, aviltamento, abuso e estupidez generalizada. Tudo devidamente sancionado, mais ou menos democraticamente, por quem direta ou indiretamente depende do ‘regime’ em termos económicos.
Antes, em tempos de menor idade e maior inocência, ainda falávamos, esta grupeta, em projetos e de como poderíamos participar na melhoria disto tudo. Pararia tudo quando nos apercebíamos que tínhamos de nos submeter a uma máquina de poder cujo objetivo era não um país melhor para o tal Povo (valerá a pena a maiúscula?), mas um País mais melhor bom o melhor do mundo de sempre para o tal Povo.
Vamos ainda, entre encontros mais separados no tempo, discutindo o que poderia, o que deveria ser feito. Largando ideias ao despique, comparando-nos com outros países, com outros tempos, passados e futuros, observando, tomando conta dos nossos, perdendo esperanças, bebendo mais um copo, dando uma gargalhada, usufruindo dos prazeres que a amizade ainda nos permite. Admitindo, como bons portugueses, que está tudo mal, mas que por cá ainda se vai estando bem. Isto para alguns, nós, não para todos os que por este jardim à beira mal plantando andam, que há para aí gente que passa mal e não se apercebe do poder que pode ter num único voto, o seu e o dos seus, para mudar tudo isto.