Jorge Alves, OBEGEF
Há entidades que anunciam determinadas Ações de Formação, recolhem a listagem dos formandos, solicitam-lhes as assinaturas nas folhas de sumários, pagam-lhes o valor equivalente ao subsídio de refeição, mas a Ação de Formação nunca se realiza.
O país tem recebido muito dinheiro para Formação Profissional ao longo dos últimos anos. Por exemplo, no site do Programa Operacional Capital Humano (POCH), em notícias, pode ler-se o seguinte: “285 milhões de euros do PRR destinados à Formação Profissional e ao “Acelerador Qualifica””. A questão que se coloca é se o dinheiro investido em Formação Profissional é devidamente aplicado e tem os efeitos desejados. Tenho para mim, que nem sempre será, como tento apresentar com as situações seguintes.
À mesa do café, o João e o Paulo conversavam sobre o estado da Formação Profissional no país. O João, a certa altura, mencionou: - Alguns dos colaboradores da minha empresa frequentam Ações de Formação promovidas, por vezes, pela Associação Empresarial local, mas os resultados não são palpáveis. As Associações Empresariais enviam periodicamente às empresas uma lista de Ações de Formação que pretendem realizar, quase sempre em horário pós-laboral, para que os colaboradores das mesmas se inscrevam. Os colaboradores que frequentem essas ações de Formação recebem o equivalente a um subsídio de alimentação, nos dias em que as mesmas decorrem. No entanto, os colaboradores consideram que as referidas Ações de Formação nem sempre são interessantes e ficam muito aquém das expectativas.
O Paulo, falando também da sua experiência, apresentava uma situação bem mais complicada, referindo: - Há entidades que anunciam determinadas Ações de Formação, recolhem a listagem dos formandos, solicitam-lhes as assinaturas nas folhas de sumários, pagam-lhes o valor equivalente ao subsídio de refeição, mas a Ação de Formação nunca se realiza. Certamente que estas entidades recebem apoios significativos para a realização destas Ações de Formação.
O João acrescentou: - A minha empresa concorreu a um programa para a realização de Ações de Formação aos colaboradores e consultoria presencial na empresa, do qual constavam um número muito significativo de horas de formação e consultoria formativa. Contudo, os responsáveis da empresa viram-se confrontados com a necessidade de desistir do programa, dado que, quer o número de horas de formação efetiva, quer o número de horas de consultoria, nada teve que ver com o que estava definido no contrato. Em concreto, as horas de formação foram menos de 10% do anunciado e a consultoria na empresa nunca existiu.
Já o Programa UPskill, do que conheço, parece distanciar-se das situações anteriormente relatadas. As empresas que aderem ao Programa identificam o número de pessoas que pretendem contratar e em que áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação pretendem a contratação. Por sua vez, as Instituições do Ensino Superior associadas definem, em conjunto com as empresas, a estrutura e conteúdos dos Cursos/Ações de Formação. Os candidatos selecionados, com o mínimo do 12º de escolaridade, recebem durante o período de formação- estimada de seis meses- o equivalente ao salário mínimo nacional. No final da formação, espera-se que, no mínimo, 80% dos formandos sejam integrados nas empresas, os quais passarão a receber, no mínimo, 1.200€ mensais, incluindo o subsídio de alimentação. Segundo relatos de empresários envolvidos neste programa, a integração dos formandos na empresa é muito rápida e economicamente compensadora, face à contratação de um colaborador normal. Assim, este tipo de Formação Profissional deve ser incentivado e outras tipos de Ações de Formação devem ser bem analisados pelas entidades responsáveis pelo financiamento das mesmas, para que o investimento efetuado se consubstancie em resultados concretos.