Miguel Abrantes, Jornal i online

 A Pérola de Veldhoven é responsável pela produção dos robôs que fabricam os semicondutores e os circuitos integrados, objetos essenciais para o funcionamento da sociedade atual.

Em 1665 Johannes Vermeer na cidade de Delft, na parte ocidental dos atuais Países Baixos, pintou um dos quadros mais famosos do renascimento flamengo, que está exposto num museu em Haia. Vermeer conseguiu tirar o máximo partido das potencialidades que pintura a óleo oferece para produzir uma das obras de referência do estilo naturalista.

«A Rapariga com Brinco de Pérola» transmite uma sensação de realismo e mistério que nenhuma fotografia consegue igualar. O realismo desta pintura é comparável ao da obra produzida pelo pintor alemão Gerhard Richter, 312 anos depois, denominada Betty.

Atualmente os Países Baixos têm uma nova pérola, não foi produzida em Delft, nem está exposta num museu de Haia. A nova pérola neerlandesa está localizada em Veldhoven, junto à Autoestrada que liga Eersel a Horsterweg e chama-se Advanced Semiconductor Materials Lithography, Holding N.V., conhecida por ASML.

A ASML produz máquinas que se designam Extreme Ultraviolet Lithography (EUV), cuja função é fabricar os robôs que produzem semicondutores e circuitos integrados.
Apenas 50 EUV são produzidas por ano e a ASML tem o monopólio desta tecnologia. Os seus principais clientes são: a Intel Corporation, a Advanced Micro Devices (AMD) e a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC).
A propósito das ameaças que a China tem proferido recentemente contra Taiwan, têm sido feitas muitas referências à TSMC, porque esta empresa de Singapura é a maior produtora mundial de semicondutores, com uma quota de mercado de 55%.

Os semicondutores são utilizados para a condução de correntes elétricas e constituem a matéria-prima dos circuitos integrados que, atualmente, integram os mais diversos aparelhos eletrônicos, desde frigoríficos a computadores, passando por televisores e telemóveis. 

Por outro lado, as norte americanas Intel e AMD detêm, praticamente, o monopólio dos processadores utilizados nos computadores, que são constituídos por circuitos integrados, cuja matéria-prima são os semicondutores.

Os processadores são a componente que controla as operações realizadas pelos computadores, funcionam como se fossem um cérebro.

Atualmente, os semicondutores e os circuitos integrados são essenciais para o funcionamento da sociedade e, por isso, é inegável a importância de empresas como a TSMC, a INTEL e a AMD.

No entanto, para produzir os semicondutores e os circuitos integrados são necessários robôs com caraterísticas muito peculiares, uma vez que têm de trabalhar de uma forma minuciosa com uma matéria-prima microscópica e ultrassensível.

A única empresa do mundo com capacidade técnica para produzir os referidos robôs é a neerlandesa ASML. Quando se tem acesso a uma máquina, em regra, é possível efetuar a chamada engenharia reversa, que constitui o processo de descobrir os princípios tecnológicos subjacentes ao funcionamento de um dispositivo através da análise de sua estrutura e, posteriormente, efetuar uma cópia.

Todavia, existem situações em que, devido à complexidade técnica, não é possível efetuar engenharia reversa.  As máquinas que produzem os robôs da ASML são, definitivamente, um desses casos.

A ASML tem 31.000 empregados de mais de 100 nacionalidades, sendo, por isso, um alvo fácil para espionagem industrial. E tentativas não têm faltado. Aparentemente, sem sucesso. Pois esta empresa continua a deter o monopólio da produção dos robôs que fabricam semicondutores e circuitos integrados, objetos indispensáveis para a produção de grande parte dos objetos que usamos no quotidiano. 

Era possível vivermos sem a Pérola de Veldhoven, mas não era a mesma coisa.