Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo
De acordo com múltiplos estudos da área do Marketing aplicado ao turismo os postais ilustrados são uma das formas mais potentes de promover um destino, de criar uma imagem sobre um local, de incentivar o desejo de uma visita.
Os postais ilustrados que os turistas enviam às suas famílias, aos seus amigos, aos seus colegas de trabalho não devem, pois, ser vistos como simples formas de comunicação pessoal, mas como instrumentos de grande eficácia e baixo custo de promoção em massa dos nossos destinos turísticos.
Que imagem passamos hoje de Lisboa através dos postais ilustrados? Será uma Lisboa, moderna, cosmopolita, com uma oferta cultural interessante? Ou uma Lisboa arcaica, colonial, inculta e analfabeta?
Um dos principais motivos dos postais ilustrados lisboetas é o elétrico. A primeira linha de elétrico foi inaugurada na Rússia em Sestroretsk perto de São Petersburgo em 1875, mas a tecnologia rapidamente se espalhou pelo mundo, das Américas à Ásia.
Na Europa os elétricos dos modelos usados em Lisboa e plasmados nos postais já foram substituídos há muito, dando lugar ao metro de superfície ou a modelos mais modernos. Mesmo em Istambul o moderno metro de superfície domina a paisagem dos transportes urbanos.
Temos, assim, como uma das principais imagens da nossa capital um meio de transporte ultrapassado, que nem sequer é português! Que mensagem passa? Portugal parado em tecnologias estrangeiras do século XIX.
Outra imagem icónica da cidade é o monumento às Descobertas erguido frente ao Jerónimos nos anos 40 do século passado. Na verdade um monumento que pretendia afirmar o colonialismo português, numa época em que o Reino Unido já pensava na descolonização que se iria começar a operar no final da II Grande Guerra.
Um monumento, portanto, à falta de visão do ditador português, uma obra de propaganda da injusta e anacrónica política colonial salazarista. Nada poderia ser mais inapropriado no mundo tão diverso dos nossos dias do que um monumento ao colonialismo, a tudo o que tantos odeiam e outros tantos lamentam. Um monumento a um período histórico marcado por tantas atrocidades, trabalho forçado e imposição de uma vontade estrangeira a tantos povos da África e da Ásia.
Que mensagem passa? A de um Portugal orgulhoso de um passado esclavagista, colonialista, orgulhoso do pior da sua História.
Contribuem então os postais ilustrados para reforçar a imagem de Portugal no mundo? Certamente que não. Contribuem para atrair mais visitantes? Provavelmente não, mas haverá que testar através de inquérito aos turistas. Que imagem passa a quem os recebe? Novamente haverá que testar.
Quando tanto se fala em eficiência porque se desperdiça uma das melhores ferramentas de promoção do país? Que fazem as autoridades governamentais da área do turismo? Olham para o lado e dormem.