Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo
Portugal é um país excessivamente dependente do comércio internacional. Muito do que faz é para exportação. Muito do que exporta é produzido por empresas estrangeiras, alemãs, francesas, brasileiras, etc. Muito do que produz é feito por trabalhadores estrangeiros, nepaleses, indianos, cabo-verdianos, brasileiros, e tantos outros. Que se não fixam em Portugal. Que chegam trabalham e rumam ao centro da Europa, numa rotação infinda.
Portugal importa mais do que exporta. Muito do que importa vem da Espanha, da Alemanha, do Brasil, etc. Como país desigual Portugal tem uma forte emigração. Estes portugueses estão espalhados pelo mundo, pela França, pela Alemanha, pela Venezuela, pelo Brasil e muitos outros recantos do mundo.
O racismo é uma das causas do atraso português. Quem quer fixar-se num país racista e desigual? Quem quer investir num país racista? Obviamente muito poucos e só com grandes incentivos.
O Brasil é um país irmão, um país de grandes empresas que começam a expandir-se pelo mundo. É um país de que nos chegam muitos imigrantes dispostos a trabalhar e contribuir para a nossa economia, dispostos a ajudar-nos a ultrapassar atrasos económicos, técnicos, científicos, culturais e sociais.
O racismo contudo entrava esta dinâmica. O racismo tem vindo a prejudicar fortemente as relações de Portugal com o Brasil. Recentemente tivemos a deselegância do Chega e da Iniciativa Liberal na receção ao Presidente brasileiro, depois tivemos incidentes em Braga e agora temos o envio de cartas com ameaças à Embaixada do Brasil.
Segundo o Correio Brasiliense (ver aqui), um conceituado diário brasileiro, a Embaixada brasileira em Lisboa recebeu uma missiva racista em que se lê: " Portugal é uma terra de brancos e para brancos", onde "não há lugar para seres sub-humanos como indianos, nepaleses, marroquinos, muçulmanos, judeus, ciganos, negros, os malditos brasileiros e os LGBTQIAP+". A Embaixada contactou de imediato as autoridades portuguesas.
Como podem ser boas as relações com o Brasil, uma potência em ascensão, nossa amiga, e com a qual partilhamos aspetos culturais e históricos comuns, se os seus representantes oficiais em Portugal são ameaçados, se a sua comunidade entre nós se sente insegura?
O racismo está a atingir níveis extremos em Portugal. O próprio Primeiro-Ministro é alvo de uma manifestação racista e ninguém se indigna! Os países amigos são ameaçados e ninguém é preso! Grupos numerosos de pessoas de minorias étnicas são afastados do mercado de trabalho e o Estado não intervém. Altos dirigentes do futebol surgem envolvidos em tráfego de jovens. Imigrantes vivem em condições sub-humanas um pouco por todo o país e têm como resposta muitas palavras e nenhuma ação. Os direitos básicos são negados e nada afeta as boas consciências dos "portugueses de bem".
Um país assim tem vitalidade para se regenerar? Tem força moral e anímica para inverter o declínio que o destrói?
Que mais é preciso para que reconheçamos de uma vez por todas que temos um forte problema de racismo na sociedade portuguesa e que é preciso atuar com vista a erradicá-lo?