Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

A França, país que apostou durante muito tempo na energia nuclear, parece agora focada na produção de baterias elétricas para os automóveis. Para o Hauts-de France, região em torno da cidade de Lille no Norte do França, estão previstas várias gigafábricas.

A última a ser anunciada é a da ProLogium, uma empresa de Taiwan. Esta é a quarta gigafábrica que se vai instalar nesta zona de França. Um passo importante na re-industrialização desse país do centro da Europa.

Apesar de Portugal ter importantes jazidas de lítio, uma matéria-prima essencial na produção de baterias, as fábricas estão a ser construídas um pouco por toda a Europa com exceção de ... Portugal. Eis outra grande derrota do nosso governo, incapaz de atrair investimento nesta área industrial de ponta.

Também perdemos, por falta de ação do nosso governo, a oportunidade de transformar Sines num grande porto de entrada do gás liquefeito vindo das Américas. Os outros mais ágeis, rápidos e expeditos criaram os seus portos e a infraestrutura necessária para a circulação e distribuição do gás. E como prémio de consolação a União Europeia apoia a construção de um gasoduto para que possamos importar hidrogénio verde da França e da Espanha. Uma derrota em toda a linha.

Iremos muito provavelmente enviar portugueses para trabalhar nestes grandes projetos europeus de re-industrialização. Portugueses emigrantes que irão povoar as fábricas e os portos do centro da Europa.

Quando a maré da globalização começou a mudar, quando a re-industrialização surgiu no horizonte que fez o governo português? Criou equipas para perceber que indústrias/setores seriam prioritárias? Que vantagens competitivas são decisivas nesses mercados? Convocou sindicatos e empresas para se organizarem e agirem? Mobilizou a sociedade para se preparar e aproveitar as oportunidades? Desenhou os instrumentos de financiamento necessários? Criou as infraestruturas de apoio?

Nada disso. Ficou à espera que os outros nos escolhessem pelos nossos lindos olhos, isto é pelos nossos baixos salários. Mas a nova época da re-industrialização não escolhe a localização dos investimentos só pelos baixos salários. Há outros requisitos e o governo não parece saber quais são.

A economia cresceu pouco mais de 2%. Todos falam de boas notícias. Mas este valor é o que até agora dizíamos ser o número da estagnação. As expetativas portuguesas, as capacidades das nossas elites políticas e económicas, são já tão baixas que, agora, nos vendem a estagnação como bom desempenho, como feito a celebrar. Hurra!

Em contrapartida os lucros sobem e as empresas batem recordes de resultados. É como no antigo verso do nosso cancioneiro popular "uns vão bem e outros mal".

No ano em que fomos ultrapassados pela Roménia a estagflação em que vivemos passa por uma boa notícia. Mas ao contrário do que disse o Presidente os efeitos destes resultados económicos já chegaram às famílias. O empobrecimento, a desagregação do SNS e a falta de professores e de aulas nas escolas aí estão para o demonstrar. E não há luz ao fundo do túnel.