Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo
Não, não se trata de uma versão requentada do grupo nacionalista irlandês que semeou o terror na Irlanda do Norte até que o Acordo de Sexta-feira Santa pôs fim a esses anos turbulentos.
Não, a IRA que falamos é a Inflation Reduction Act, que podemos traduzir por Lei de Redução da Inflação. Esta Lei aprovada pelo governo do Presidente Biden a 16 de Agosto de 2022 pode tornar-se motivo de uma guerra comercial desastrosa entre a União Europeia e os Estados Unidos.
Os enormes subsídios a distribuir, e os enormes incentivos fiscais estão a levar as grandes empresas europeias a canalizar os seus investimentos para os Estados Unidos deslocalizando para aí empregos e fábricas. A IRA é como um enorme aspirador atraindo investimento e criando empregos na América à custa dos seus principais parceiros comerciais. É um aspirador seletivo porque se mantêm fortes restrições ao investimento chinês ou russo. Parece então dirigido ao capital europeu e ao do médio oriente. Seriam, no fundo, estas regiões a financiar a re-industrialização americana.
Uma das indústrias afetadas é a automóvel, porque para além das vantagens ficais, uma das medidas da IRA é a de subsidiar fortemente a compra de carros elétricos (7.500 dólares por carro) mas apenas se os materiais usados na construção das baterias forem de extração americana ou de um país com acordo comercial com os EUA - que não é o caso da EU que nunca assinou esse tipo de acordos com os EUA. Para vender carros elétricos nos EUA passa a ser preciso produzir nesse país e comprando a empresas americanas. Desde a aprovação da IRA, os anúncios de investimentos em baterias, mineração dos metais necessários para as baterias e em carros elétricos nos Estados Unidos atingiram níveis recorde.
A União Europeia ainda não conseguiu montar um plano de investimento público equivalente, procurando negociar com os Estados Unidos. Mas enquanto negoceia as empresas vão retraindo o seu investimento na Europa e desviando-o para os Estados Unidos.
Portugal, como a indústria automóvel europeia aqui instalada, pode vir a ser uma vítima destas guerras comerciais. A globalização está a mudar e o comércio livre a dar lugar a políticas industriais públicas de gigantescos subsídios à produção nacional.
As políticas industriais públicas tão criticadas pelos liberais estão, pois, de volta e em força. A crise assim o dita.