Ricardo Rodrigues, OBEGEF
Um dia questionado: Se tudo seria aquilo que parece “ser” aos olhos,pelo tempo e forma, no tempo que é conhecido? Respondi: De quanto de aparência uma boa convivência se faz? Quanto de essência teríamos de sacrificar? Quanto de transparência nos é exigível? De quanto de aparência uma verdade precisa para ser admissível? Quanto de verdade uma simples aparência precisa para ser conceptível? Quais deverão ser os princípios norteadores e os limites definidores da estética? O que seriam leituras e interpretações plausíveis e/ou inaceitáveis? Qual o nível de consciência de essência supomos possuir ou dever possuir? Que instrumentos hermenêuticos possuímos? Que imagem suponho possuir ou dever possuir do “eu”, do “outro”, do “nós”, do “todo”? (…)
As aparências, seu signos, símbolos, códigos e simbioses, representam complexos feixes comunicacionais em ação pelos universos culturais, são manifestações (em contexto e perspetiva), são “potências”, são evidências, são exterioridades das interioridades, exteriorizações (como são conhecidos) do “ser” e “estar”, as formas das essências (formas para ler e sentir a realidade) nas idiossincrasias mundanas.
As aparências encontram nas liberdades, seu potencial dignitário e autopoiese genética, o seu radical (a verdade), a fonte - essência (ético-estética). Em especial, a liberdade de aprender, de partilhar, de comparar, de contradizer, de escolher, de decidir, de aceitar, de recusar, etc. Em liberdade, à margem da cegueira Puritana e Maniqueísta, a possibilidade da “formação” crítica e dinâmica do “ser”, na sua complexidade, em integração profunda, a conformação da imagem, modos de revelação e leituras. Através do eu, com o outro, do nós, com o todo, aceder conjuntamente a níveis diferenciados, mais profundos e elevados, de compreensão e consciência ético-estética.
Através das aparências, nos limites à representatividade, considerando a subjetividade e culturalidade implicadas nas propostas e leituras, a inteligibilidade e percetividade possíveis das realidades. Um universo de sentidos em busca de uma proposta que se crê ética, funcional e deontologicamente sustentável.
Em verdade, as aparências nunca iludem: Elas apresentam, expondo à leitura “representativa”, no seu primado, por forma equivalente, a verdade, as essências, as mentiras, as virtuais hipóteses, as intenções, as virtudes, o contemporâneo e o futuro, o convencional e o progresso, as projeções, os erros, etc. As aparências são figurinos, são vestes, constituem o retrato do ilustre, do fatídico, do divino, do perpétuo. As aparências são imagem, mapa, roteiro, oráculo, são pretensiosas fisionomistas, autoras do modo e meio de revelação das géneses e existências.
As aparências são tudo o que temos. São as verdades possíveis, até que outras, diferentes, diversas, prováveis, possíveis, cognoscíveis, tomem o seu lugar. As evidências de uma realidade a descobrir (estás preparado(a)?).
As aparências são as evidências empíricas em todo o seu esplendor, com todo o potencial causal nas essências. Ilustre-se com a efetividade das seguintes revelações (desconsiderando, por ora, a fiel correspondência com as essências): evidências inidoneidade; evidências de insubordinação; evidências de deslealdade; evidências de insolvabilidade; evidências de má gestão; evidências de opacidade e corrupção; manifestações de riqueza de origem (ainda) desconhecida; evidências de espiral inflacionista/ deflacionista; etc.
O potencial das aparências (“tudo revelam?”; “tudo devolvem”?)
Seria o “André” tão mais bem caracterizado pelo conteúdo e modo de qualificar e considerar, entre outros, o “Augusto”, que, necessariamente, “Augusto”, embora, assim, tenha sido ou, eventualmente, possa ser representado (contexto – perspetiva) (V. Baruch Espinoza; Lise Bourbeau; et. al.).
De facto, “Augusto”, entre perceções e representações sociais, mediadas por “André” (núcleo de experiências), que, certo(s) dia(s), confrontado, segundo a sua especial sensibilidade, com evidências de um particular “fumo”, que julgou de uma “cor”, “forma” e “modo de revelação”, a que associara motivos, intenções, pretextos, ensejos, realizações, as “flamas”, talvez, nunca existentes, mas socialmente “dignas”, “relevantes”, ávidas por respostas, factos vivenciados e transmitidos na premência dos dias, transbordados da liga emocional que os envolve (segundo a fenomenologia da comunicação), dirigidos a um amplo campo de ressonância, tando mais expressivo na receção quão sintonizado na linha discursiva, quão menos vitalizado na sindicância e reivindicação, promotores ético-estéticos. Assim será devolvida, com todo o potencial sociocultural, psicofisiológico, etc. Realmente, “André” é fonte primária e, simultaneamente, secundária, quer a respeito de si mesmo, do meio envolvente, dos atores / agentes /participantes, nomeadamente, de “Augusto”.
Nada escapa às aparências (as aparências são as evidências do mundo comum?): Das aparências vivem/ não escapam as necessidades, os desejos, os sonhos, os futuros (causas fundacionais das inquietações, tristezas e tensões)?
As aparências, sempre, elucidativas, nos acareiam motivos. Revelam-se faces / rostos possíveis, tangíveis na ferocidade dos tempos. Nas ilustríssimas estão leituras representativas dos caracteres, dos vetores, dos, mais variados, detalhes dos eventos, dos bens materiais e imateriais, das pessoas físicas e jurídicas, das personalidades, das condutas, etc.
As aparências são espelhos, portais, lugares de um tempo, são permanências, na experiência, são resultados sensoriais e emocionais, carregados de fisionomias, são gatilhos prontos a estimular e desestimular movimentos, interações, são forças motrizes da ação, são evidências, reais, ideais, virtuais, espontâneas ou intencionais, percussoras das harmonias, dos ritmos, das temperaturas, etc no valsejo que é vida.
As aparências são pretextos de fé, crença, convicção, etc, o húmus de todo um vortex sanguíneo das esperanças mundanas (irresistíveis).
Das aparências vive/ não escapa o universo jurídico, o universo económico, o multiverso financeiro, o mundo societário e comercial, as representações políticas, as crises diplomáticas, etc.
As aparências são, estruturalmente, manifestações ou provas de poder, ou poderes de facto, constituem evidências inteligíveis dos poderes atribuídos. As aparências são, também, atmosferas propícias a momentos e lugares. As aparências são conformações, são imagens de padrões ético-estéticos nos ecossistemas de viés governativo. As aparências poderão, assim, representar, numa dinâmica de coerência e aceitabilidade, compromissos leais com a verdade e as essências, com todas as repercussões sociais, empresariais, económicas, financeiras e culturais.
Se for certo que ao povo cabe decidir da bondade dos seus singelos consortes, descuradas jamais deverão ser as justas armas consolidativas da virtuosidade existente ou potencial.
As aparências são como que uma dúzia de mãos vazias, três copos meios cheios, representam, pois, pelo modo e profundidade nas demonstrações, níveis de consciência, domínio e lucidez sobre o estar e o ser passado, presente e futuro.
Se à mulher de Cesar não bastou a honestidade, ao Gentil não bastará o nome, ao integro não bastará sê-lo, ao autor de um crime (reputação em crise), no entanto, talvez não baste uma estoica existência (insistência na dúvida contrária – dar um benefício).
À espreita, a dúvida, a suspeita, a desconfiança, a caixa de pandora, a margem impiedosa aos juízos atributivos, às qualificações, aos rótulos sociais. Nos matizes da dúvida, as oportunidades (v. o justo momento pelo justo motivo) de reabilitação, pelo posicionamento, reposicionamento, reconstrução ou redefinição.
Aparentar ser, considerando a imagem de si ou a projetada, caracterizada de modo fiel e coerente, constitui um desafio complexo, exigente sob o ponto de vista humano (cognitivo e emocional), técnico e tecnológico, mas indispensável.
De facto, a gestão das aparências, seu viés emancipatório, constitui investimento estratégico essencial ao processo convivial e à realização pessoal e profissional (progresso). Assegura, de modo essencial, o controlo e manutenção das espectativas e esperanças, com todos os enlaces causais. Ao passo que, redesenhar, repetidamente, na aparência, a projeção de essência desejável, parece “ser” o “eco” ideal à transmutação. Através da aparência, vislumbra-se a oportunidade de consolidar a verdade ou, mesmo, transformar ou transfigurar em verdade (facto), aquela fé, aquela crença, aquela convicção (sonho-ficção).
Aparentar a perspetiva de ser constitui habilidade que exige consistência e duas dotações fundamentais, saber comunicar (comprometimento, consciência e resiliência em perspetiva – empatias e simpatias) e demonstrar (congruência e dinâmicas discursivas), rendendo-se à simplicidade, rigor, pertinência, concisão e clareza. O desiderato, estimular, promover, despertar as atitudes certas, integrar a imagem ao valores e princípios, instituindo um posicionamento estratégico (referência de organização).
A aparência implica, sobretudo na sua dimensão funcional, um aprofundamento da autoconsciência pública (contextual), ora, uma genuína constrição do Narciso. Assim, a fiel adesão a veículos ordenadores, irrigados pelos fluídos da consciência coletiva especialmente inspirados num sentido dignitário do ser, também conhecido como cristalização da “centelha divina” (sobre o sagrado Homem e o Amor. v. Séneca, Santo Agostinho, Lipovetsky, André Compte-Sponville, et. al.), motivadores e, simultaneamente, elevadores ético-estéticos.
As aparências, realmente, não poderão ser esvaziadas do “estar-ser” que representam, ainda que traduzam simples imagens não consentâneas com as essências, em verdade, propugnadas, de modo direito ou indiretamente, pelos sujeitos, pelo que quando representem manifestações que ferem valores e princípios ético-jurídicos fundamentais, e pelo correspondente potencial de mobilização que canalizam, deverão ser absolutamente intoleráveis.
Inúmeros são os exemplos, ainda que, em remota hipótese, afastados da essência, constituem, assentes em evidências reais ou fictas, em simples sugestões ou crenças, fórmulas discursivas (contextuais) institucionalizadas avessas a qualquer senso ou enlace ético-estético. Em geral, discursos motivacionais de ódio ou de salvação, provedores do caos, altamente nocivos, miasmáticos e predatórios (ex.: estigmatização social; agitação e revolta sociais; corridas bancárias; açambarcamentos; etc). Acrescem, discursos de cariz reverencial, também, intimidatório, ameaçador, constritor, penalizante. Ora, signos e sinais de força, como milícias, armas, mortes, fontes da crueldade humana e do cinismo (arte do governar contemporâneo). Ainda, demonstrações de ódio ao pensamento crítico, ora, discursos capciosos de vocação negacionista, anti ciência, promovendo a desconfiança a respeito da confiabilidade dos saberes. Também, discursos conspiracionistas, que, opondo, de modo pernicioso, povos, suas crenças, fés e culturas, identidades instrumento, legitimam, por exceção ou especialidade, seus individuais intentos. Em particular, para assegurar a benignidade, a coerência e a eficácia, pelo suporte social, de um dado posicionamento ou medida, tendo como pano de fundo, uma ficta aparência de patriotismo, o discurso atributivo de privilégios sociais, económicos, financeiros, etc, a determinados segmentos ou franjas do tecido social, tais como, migrantes, refugiados, grupos étnicos e nacionais, instigando, com a sensação de desigualdade e/ou de esbulho, processos de estigmatização social ou a sua dramatização. Propor uma categorização social, a partir de uma linear qualificação: pessoas de bem. Cogitar o entendimento de que todos aqueles que cometem crimes deverão, numa linha profanadora da reabilitação/(res)socialização pela descrença, ser rotulados de, per se, “criminosos” ou “bandidos” (qualificação intangível), constituindo franja-alvo a neutralizar (descurando valores/ princípios como a tolerância e a compaixão) - “Bandido bom é bandido morto”.
A natureza factual das aparências, seu impacto, a sua assaz vocação preditiva ilustra as fundações de estéticas tendencialmente comprometidas com as essências. Ao passo que se exige a transição, sem precedentes, das rudimentares e ingénuas leituras populares, entre a rusticidade da linearidade, a casta sensação, a mera convicção ou fé, para construções reflexivas e críticas. A forma que toma a fórmula qualificadora não deverá existir menos comprometida que a forma da fórmula a qualificar. Não devemos exigir, todavia, uma leitura que, apesar de tudo comprometida com as essências, apresente fisionomia totalmente diversa, desconsiderando a componente estética, que lhe deu vida, que lhe deu o existir (o “ser”, a “luz”).
Aos autores, artistas de domínio, educadores, professores, formadores, engenheiros, arquitetos, médicos, enfermeiros, juízes, advogados, doutrinadores religiosos, políticos, empresários, trabalhadores, aos pais, às mães, aos irmãos, aos filhos, aos afins, todos os servidores (cocriadores – corresponsáveis). Qual o teu posicionamento nesta equação? Qual o caminho a seguir?
As estéticas, revelações, imagens ou verdades tangíveis, e os seus agentes-atores-promotores, nutrem-se reciprocamente do todo complexo comunicacional-cultural do qual são participantes ativos, pelo que se afiguram, per se, dinâmicas, porosas (não estáticas). Ora, a multiplicidade de influências e diversidade de influenciadores e influenciados, nas dinâmicas das sociedades da informação, conhecimento e comunicação, sustentadas por tecnologia, sociedades complexas (v. Émile Durkheim, et. al.) onde se cruzam universos físicos e virtuais, adensa o desafio da cognoscibilidade das possibilidades de leitura (ainda que considerados sejam os resultados precipitados pelos processos de mundialização e globalização), bem como, e consequentemente, das manifestações estéticas afirmativas. Pelo que se impõe, em abono da tangibilidade de um eficiente entrançamento ético-estético, um contínuo aprofundamento consciencial e uma postura de compromisso ativo / dinâmico, sustentada em valores/ princípios, como a tolerância, a compaixão e o amor.
A verdade (ou, será, revelação?) incontestável: bem mais do que “ser” é estrutural “saber” (a)parecer.
A consciência da importância e impacto dos modos de revelação das essências, com a qual concorrem modos rudimentares e, outros, bem mais aguçados de perpassar as vestes das aparências, desvendando evidências, reais, virtuais, potenciais, ideais, sugerem novos movimentos concorrenciais. Que superando a simples aproximação ou pretensão, de modo estruturado, capaz de, sem prejuízo da autodeterminação dos sujeitos, revelar de modo amplamente afirmativo a realidade.
De facto, se muito improvável é repetindo os mesmos processos, com o mesmo código consciencial, obter resultados diferentes (Albert Einstein), a disrupção poderá iniciar-se com a simples colocação em causa e/ou perspetiva, que se adensa com a benigna introdução do estudo, da análise, da reflexão, da partilha dinâmica, etc, no fundo, óleos essenciais às engrenagens do progresso comunicacional responsável (consciente).
Conscientes das icónicas verdades, intrínsecas e virtuais (pelas leituras), carreadas das aparências, acompanhadas da devolução às essências, ora, o papel estrutural dos ilustres gestores de expectativas (pela aparência), veículos de fés e esperança, a debelar sequências de encontros, contrariedades, atos, momentos e resultados, trilhando fiel o encontro de fé com as essências.
Novos fazedores das estéticas, comprometidos com o “eu”, o “outro”, o “nós” e o “todo”, cocriadores, corresponsáveis pelas leituras e eventuais distorções, as inevitáveis projeções, nomeadamente, consequentes da afetação das perceções, com potencial de eficácia sobre acordos, pactos, compromissos, bem como, no respeitante à consistência e à resiliência de determinada matriz vivencial (ex.: cultura organizativa).
O compromisso ético-estético é, por todo o exposto, um projeto / processo inacabado, uma realização sem seguro, mas seguramente profícua, precipitando a cultura nutridora ou irrigadora do consciente presente, tão essencial aos ambientes organizativos, em especial, escolas e academias, centros de formação, empresas, associações, etc.
Intrincar o propósito estético às modelações da existência, não mais é que “amalgamar a ideia pura com a realidade humana” (Victor Hugo, “Os Miseráveis”). Trata-se de esvaziar de motivos as pedras da engrenagem, revelar, consolidando, ao/no mundo, interno e externo, o complexo ético-estético das virtudes e das existências (palavras ordenadoras: verdade, autenticidade, presença, coerência, consistência e resiliência), assim, plenas de sentido, no sentir que é pleno de sentidos, nos sentidos que são todos pelo quais aspiramos e devolvemos, formas, padrões, cores, melodias, ritmos, aromas e perfumes, as texturas, etc, nas feições e contextos apresentados, gatilhos do sentir, consciências do estar, no presente que nos pertence, autores, cocriadores da História-Estória.
A próxima linha é tua _______________________________________________________________________________________