Paulo Vasconcelos, OBEGEF
Seja por eleição democrática, intervenção autoritária, ou sucessão, os líderes são em geral fracos na causa pública, mas finos na optimização da qualidade da sua curta existência e dos lobbies perenes.
As sanções económicas são penalizações impostas por um país (ou países em concertação) a outro no pressuposto de que esse outro opera de forma agressiva ou viola a lei internacional. As sanções estão entre as medidas mais hostis que podem ser empregues, apenas aquém de uma guerra.
Terão sido sanções que contribuíram para o isolamento da África do Sul e implosão do Apartheid. Foram as sanções relativamente recentes impostas pelos Estados Unidos contra a tecnológica Huawei (de certa forma contra a China), que impediram que a empresa fosse hoje a número um mundial, conforme reafirmou o seu Diretor Executivo Richard Yu.
Com a “entrada” da Rússia na Ucrânia, países ocidentais têm vindo a aplicar um vasto leque de sanções contra a Rússia que envolvem (i) o sistema bancário, com a retirada de vários bancos da plataforma financeira para pagamentos interbancários e a interrupção das operações nas redes de pagamento, (ii) os transportes, fechando espaço aéreo à Rússia, as operações aéreas e marítimas, e suspendendo a produção e comercialização de produtos tecnologicamente avançados por empresas ocidentais na Rússia, e (iii) as commodities, com a retirada de investimentos e participações por empresas multinacionais e o embargo (parcial ou total) à importação do petróleo russo.
O valor do rublo face ao dólar e ao euro caiu quase de imediato. Mas tal impacto começou a inverter-se por ação do Banco Central da Rússia. Na verdade, hoje o rublo tem mais valor relativo face às duas moedas do que detinha no período antes do conflito. O verdadeiro impacto de muitas das sanções só se fará sentir a médio/longo prazo. No imediato é esperada uma recessão na economia russa, com um empobrecimento de 10%. Mas estas sanções também estão a provocar grandes dificuldades à economia global (às economias que impõem as sanções e a todas as outras). A Alemanha foi beneficiando de gás e petróleo abundante e a bom preço proveniente da Rússia. Desde os anos 50 que esforços para facilitar e aumentar a aquisição destes produtos pelo país mais industrializado da Europa foram sendo persistentemente e paulatinamente conseguidos, não obstante os alertas de excessiva dependência e debilidade geopolítica que daí resultaria. Do gás natural que a Alemanha importa cerca de 55% é proveniente da Rússia e as importações de petróleo representam cerca de 1/3. O fator económico a sobrepor-se a qualquer outro, mesmo o de segurança e defesa. Agora, com as sanções, a Alemanha tenta diminuir esta forte dependência, correndo o risco de, entretanto, a Rússia lhe cortar totalmente o fornecimento. Sim, a Rússia ao vender em grande quantidade e a bom preço os seus recursos naturais, fortaleceu no curto/médio prazo a sua posição de segurança e defesa por criação de dependência energética que acabou por conseguir impor (acordando). A venda massiva dos seus recursos é também uma sanção que a Rússia acaba por ditar aos seus parceiros comerciais.
Depois vem a guerra, estando a Rússia a aproveitar para se desfazer do seu material bélico mais antigo e a testar, não em simulação, mas em campo real de batalha, os seus mais desenvolvidos “brinquedos” letais. A indústria militar do ocidente está a aproveitar-se beneficiando do envio de material de guerra para a zona do conflito e a justificar o desenvolvimento de mais e novas armas de destruição.
Há sempre uns poucos que ganham, e, como sempre, muitos que perdem. Invadem-se países, impõem-se modelos de governação, acabam-se com culturas, especula-se nos mercados financeiros adulterando evoluções de valor, tira-se à saúde e ao ensino para resgatar entidades geridas por ganância e cobertas de corrupção.
Seja por eleição democrática, intervenção autoritária, ou sucessão, os líderes são em geral fracos na causa pública, mas finos na otimização da qualidade da sua curta existência e dos lobbies perenes. A população raramente tem o desenvolvimento adequado para agir, quando pode é claro. Muitos, sem planos que não sejam o da manutenção do poder, nada fazem e estagnam a economia empobrecendo a população. Outros, com projeção de poder para além do imaginável, tomam atitudes incompreensíveis, perturbando todo um sistema e, de igual forma, empobrecendo a população. Neste momento há mortes horríveis na Ucrânia, de ucranianos e de russos, pela ação impenetrável de um louco pecunioso.
Na verdade, historicamente, fomos evoluindo entre guerras. Estando o mundo globalizado e com uma capacidade destrutiva desmesurada, onde é que este caminho nos conduz? Como afirmou Einstein, “Não sei com que armas a Terceira Guerra Mundial será travada, mas a Quarta sim: com paus e pedras.”