Óscar Afonso, Dinheiro Vivo

A trajetória da taxa de inflação nas principais economias desenvolvidas está a níveis invulgarmente elevados. Entre outros fatores, trata-se do resultado do aumento dos preços da energia e dos estrangulamentos resultantes da capacidade da oferta satisfazer a recuperação da procura de bens no pós-pandemia.

Perante o comportamento observado da taxa de inflação, os bancos centrais procuram otimizar a política monetária ao contexto, embora operem a ritmos diferentes nos distintos territórios. Por exemplo, em março, a Reserva Federal dos Estados Unidos da América (a Fed dos EUA) aumentou as taxas de juro em 0,25 pontos percentuais (p.p.), anunciando que espera iniciar um ciclo mais agressivo de subida de taxas face ao verificado entre 2015 e 2018. Em contraste, o Banco Central Europeu (BCE) apenas insinuou com uma futura subida de taxas de juro.

Coloca-se a questão de saber porque difere o comportamento dos dois bancos centrais?

Em primeiro lugar, porque há diferenças na origem das pressões inflacionistas. Embora as causas do aumento das taxas de inflação sejam comuns - pandemia, secas, e aumento dos preços da energia -, nos EUA, o aumento foi superior face ao maior impacto dos estrangulamentos resultantes da capacidade da oferta satisfazer a recuperação da procura, certamente como consequência da ajuda fiscal direta mais ampla e generosa dos EUA em comparação com a promovida pelos países da União Europeia (UE). Além disso, o mercado de trabalho, fundamental para explicar as pressões inflacionistas a médio prazo, está sob muito maior pressão nos EUA do que na UE, como é comprovado, por exemplo, pelos aumentos salariais mais generosos nos EUA do que na UE.