Aldo Andretta, OBEGEF

Recentes casos noticiados sobre corrupção envolvendo religiosos, traz à tona a discussão se deve existir distância entre a religião e a política e o quão grave é a corrupção oriunda por parte de pessoas que se escondem atrás de princípios que deveriam ser sagrados. Posso dizer de pronto que a culpa não é da política, tão pouco da religião!

Cabe dizer de pronto que não estou a julgar todos os religiosos que acabam ingressando na política. Mas quero aqui colocar minhas impressões pessoais sobre o tema, pois como todos sabem, em qualquer profissão existem pessoas de bem e outras que querem extrair o máximo de benefícios pessoais, sem se importar com as consequências para o próximo. E não sou o culpado pela percepção da população em relação aos políticos, tender mais pela segunda opção, pelo menos por aqui.

E na religião não é diferente. Problemas existem em qualquer uma de suas vertentes, seja com padres, pastores, bispos, sacerdotes, espíritas ou qualquer outro tipo de liderança religiosa. Muitos se escondem atrás da religião para cometerem inúmeros abusos. E isso se torna mais ainda evidente com a chamada “exploração da Fé”, onde se usam todos os artifícios e pretextos para que os frequentadores destas celebrações contribuam com mais e mais valores.

Chegou ao ponto de pastores venderem a cura para a Covid-19, por intermédio de “agua consagrada” (https://istoe.com.br/pastor-r-r-soares-afirma-que-agua-consagrada-por-ele-cura-covid-19/). Outro resolveu vender “feijão mágico” contra a Covid-19, sendo alvo, inclusive de notícia crime (https://congressoemfoco.uol.com.br/area/justica/valdemiro-santiago-e-alvo-de-noticia-crime-por-vender-feijao-magico-contra-covid-19/). Inacreditável, mas infelizmente é verdade.

E mais recentemente, já no mundo político, foi revelado por um jornal de grande circulação aqui no Brasil, notícia que relata suposto esquema de corrupção onde líderes religiosos atuavam paralelamente ao Ministério da Educação, com o objetivo de intermediar a liberação de verbas para os municípios (distritos) em troca do recebimento de valores e barra de ouro (https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,em-carta-ministro-diz-que-sai-do-mec-com-coracao-partido-e-pede-investigacao-completa,70004022219).

Quando a discussão envolve os dois temas, podemos considerar que em determinadas discussões é extremamente válido trazer este ponto de vista religioso pois, pode trazer pontos de vista que suportem uma boa decisão legislativa. A questão do aborto, por exemplo, é um desses pontos em que muitos defendem os princípios religiosos e outros a liberdade de escolha.

Mas quando entramos no campo onde discussão é a tratativa de verbas, a coisa muda de figura. Parece que os princípios religiosos desaparecem em um passe de mágica. Aliás, permitam-me uma correção: não é que desaparecem, muito pelo contrário. É que a interpretação dada para justificar a ganância, deixa qualquer um constrangido.

Para esses “religiosos” não vale para si a pregação do “medo” da punição divina, onde seus fiéis são levados a fazer ou deixar de fazer algo em razão desta ideologia. Se para estes “religiosos”  haverá a punição divina, não cabe a mim a essa resposta, mas os fatos devem ser devidamente apurados e, se comprovados, a lei humana deve agir com rigor.

Deste modo, colocado o assunto sobre esse prisma é correto dizer que política e religião devem manter certo distanciamento? Se buscarmos na história esses temas sempre andaram juntos. E sempre houve aspectos que foram benéficos para sociedade, bem como pessoas que usurparam de seu poder.

O assunto é polêmico, mas não acredito que a expressão que “política e religião não se discute” deve ficar restrita aos almoços de família, a fim de que não se tenham desavenças onde deve prevalecer a harmonia. Mas como sociedade devemos discutir sim, bem como cobrar qualquer um que se aventure na carreira política, que tenha a devida probidade de seus atos, independente de qual seja sua crença.