Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo
Devo esclarecer que sendo português pertenço à raça do Homo Sapiens Sapiens como a generalidade dos meus compatriotas brancos, Negros, asiáticos, Ciganos e de outras minorias étnicas e culturais, como os barranquenhos e os mirandeses. Esta realidade é atestada por inúmeros testes de ADN feitos sobre a população portuguesa e até por todos, sem exceção, os cientistas e especialistas estrangeiros que nos visitam e investigam. Felizmente pertencemos todos à raça e à espécie humana.
Contudo ouvi na televisão um estranho ser a reivindicar para si a pertença à raça Caucasiana. Estranhei. Mas a criatura insistia, repetindo como um disco riscado: caucasiana, do Norte, branca.
De repente fez luz e percebi. Desconhecia que a raça caucasiana adquirira a capacidade de falar, supunha-a completamente incapaz de tal proeza. Mais surpreso fiquei ao saber que quem tal reivindicação fazia acabava de ser eleito pela nação e ia ocupar um lugar no nosso parlamento. O meu choque foi completo quando esse estranho ser falante referiu que mais onze como ele eram agora deputados. Pensei. Uma vitória do PAN alargando direitos a outras espécies e raças. É justo, concluí. Nada de exclusivismos. Lembrei-me até de Orwell que vaticinou o seu triunfo.
Olhei melhor. Não pude negar-lhe a pertença à raça caucasiana. Se ele a reivindicava, quem sou eu para duvidar. Uma raça do Norte. Uma raça de pele branca. Ela era por demais evidente. Sei que é uma raça superior. Corri para a internet informar-me. Confirmei. Entre as características da raça Caucasiana conta-se a capacidade de suportar flutuações de temperaturas grandes e a vantagem de se poder alimentar no exterior todo o ano. Segundo sei agora é uma das raras raças do seu género em que as fêmeas são atenciosas com os filhos e podem ter até 10 a 11 descendentes. Uma fecundidade bem acima da média, o que é muito apreciado. Li também na internet que crescem depressa e que podem atingir os 100 quilos ao fim de apenas seis meses.
Agora que sei que a raça Caucasiana do Norte está representada na nossa Assembleia da República vou evitar comer bifanas ou hambúrgueres feitos da carne desses esplêndidos seres. Para evitar diminuir o número de deputados e provocar, sem intenção, uma crise política que implique novas eleições.
É que segundo descobri a raça Caucasiana do Norte é uma raça branca de, imagine-se, ... porcos ou em linguagem mais suave mas menos técnica, de suínos.
Os budistas acreditam que se as nossas más ações forem superiores às boas, depois da morte, por castigo divino, renascemos como um animal. Um suíno, por exemplo. Mas se formos muito maus, bombistas por exemplo, podemos mesmo renascer como Caucasianos do Norte.
Felizmente que nasci humano, Homo Sapiens Sapiens como os meus compatriotas brancos, Negros, Ciganos e de outras minorias étnicas e culturais. Não quereria pertencer a tal raça condenada a acabar no prato de uma refeição rápida.