Óscar Afonso, Dinheiro Vivo

Inflação é um conceito económico que traduz o aumento sustentado do nível de preços dos bens e serviços (tipicamente de um cabaz representativo) num território (habitualmente numa economia) e num determinado período. Usualmente, a respetiva taxa é medida com base na variação do índice de preços no consumidor. Este, tendo subjacente o cabaz de bens e serviços representativo do padrão médio de consumo, permite medir o valor que os consumidores têm de gastar para manterem o nível de vida, ao longo do tempo.

Curiosamente, a inflação tanto pode significar que a economia está em dificuldades como pode ser um sinal de vitalidade. Nesta crónica pretendo descrever doze efeitos potenciais da inflação.

1. Corrói o poder de compra da moeda. Dito por outras palavras, diminui a quantidade do que pode ser comprado com determinada quantidade de moeda, reduzindo assim o respetivo poder de compra. Nesse sentido, tende a encorajar os agentes económicos a adquirir ativos alternativos à moeda, que perdem mais lentamente valor.

2. Incentiva despesas, poupanças e investimentos, no curto prazo. Uma resposta previsível à diminuição do poder de compra da moeda passa por antecipar compras ou adquirir ativos imunes às variações de preços. Para os consumidores, significa antecipar a compra de bens com alguma durabilidade, ou poupar e investir em ativos financeiros ou em metais preciosos. Para as empresas, significa realizar investimentos que, em circunstâncias diferentes, poderiam ser adiados para mais tarde.

3. Causa mais inflação. As aquisições e investimentos antecipados pela inflação pressionam a sua procura, pelo que fomentam a inflação, criando um ciclo de feedback. Por outras palavras, a oferta de moeda supera a procura, e o seu preço - o poder de compra - cai. Como os agentes económicos gastam mais rapidamente na tentativa de reduzir o tempo de deteção da moeda, no limite, pode haver fenómenos de hiperinflação.

4. Penaliza a confiança na moeda. A moeda desempenha um triplo papel: meio de troca, unidade de conta, e reserva de valor. Estas funções, e em especial a primeira, só são possíveis com confiança na moeda. O que permite trocar "um pedaço de papel" por um bem ou serviço é a confiança de que (esse papel) manterá o seu poder de compra. Se a moeda perder valor de forma considerável, os agentes económicos deixam de ter confiança e deixa de cumprir as suas funções.

5. Aumenta o custo dos empréstimos, perante bancos centrais independentes. Particularmente desde os anos 80, o quadro para a definição e implementação de políticas macroeconómicas mudou. Os governos perderam os instrumentos de oferta monetária, que felizmente passaram para a responsabilidade dos bancos centrais. Por sua vez, a política monetária viu-se constrangida por regras vinculativas para evitar uma oferta monetária excessiva. A necessidade de disciplina monetária foi justificada pelos potenciais efeitos negativos resultantes de uma inflação indesejada. Os bancos centrais têm à sua disposição dois instrumentos principais que, de formas diferentes, se baseiam na variação da quantidade de moeda em circulação nas economias. Desejando diminuir a inflação, o primeiro passa por retirar moeda do sistema, vendendo títulos do governo, mas tem pouco efeito a longo prazo. A segunda opção consiste em aumentar a taxa de juro, desincentivando o crédito e, consequentemente, o consumo e o investimento, enquanto incentiva a poupança. Deste modo, a circulação da moeda diminui, e a sua escassez faz aumentar o seu valor, embora, em regra, os bancos centrais não queiram que a moeda se torne exageradamente valiosa por temerem deflação. Devem, isso sim, fixar a taxa de juro de modo a manter a inflação em torno de uma taxa alvo (geralmente 2% nas economias desenvolvidas e 3% a 4% nas economias emergentes).

6. Diminui o custo dos empréstimos, perante bancos centrais (fracos porque) coniventes com políticos. Quando os bancos centrais se deixam guiar por políticos, como acontecia até aos anos 80, a inflação baixava os custos do empréstimo, mas felizmente este cenário acabou! Neste caso, quando os níveis de dívida das famílias eram significativos, os políticos acham eleitoralmente lucrativo ordenar ao banco central que emitisse moeda, comprando títulos do governo, ou diminuir a taxa de juro, atiçando a inflação e afastando temporariamente as obrigações dos eleitores. Quando era o próprio governo que estava muito endividado, os políticos tinham incentivo ainda mais óbvio para emitir moeda e usá-la para pagar a dívida, fomentando a inflação. Foi o "gosto interesseiro" dos políticos pela inflação que convenceu os países mais bem geridos a entregar a política monetária a bancos centrais independentes.

7. Reduz o desemprego. Keynes teorizou que a Grande Depressão resultou, em parte, da rigidez dos salários à baixa. O desemprego aumentou porque os trabalhadores resistiram aos cortes salariais e, consequentemente, foram despedidos. O mesmo fenómeno pode também funcionar no sentido inverso: a rigidez ascendente dos salários significa que, quando a inflação atinge uma determinada taxa, os custos salariais reais dos empregadores caem e os empregadores contratam mais trabalhadores. Esta hipótese parece explicar a correlação inversa entre desemprego e inflação - uma relação conhecida como curva de Phillips -, mas uma explicação mais comum coloca o ónus no desemprego. À medida que o desemprego cai, os empregadores são forçados a pagar mais. Ora, aumentos salariais melhoram o poder de compra dos consumidores, estimulando a inflação porque a economia é "aquecida".

8. Aumenta o crescimento económico, no curto prazo. A menos que haja um banco central atento para aumentar as taxas de juro, a inflação desencoraja a poupança, dado que o poder de compra dos depósitos diminui com o tempo. Esta perspetiva incentiva consumidores e empresas a gastar ou investir. No curto prazo, o impulso às despesas e ao investimento gera atividade económica e, assim, conduz ao crescimento económico. Da mesma forma, a correlação negativa da inflação com o desemprego implica uma tendência para pôr mais pessoas a trabalhar, estimulando o crescimento.

9. Reduz o emprego, a competitividade e o crescimento económico, no longo prazo. A literatura fornece ampla evidência de que a produção requer liquidez porque os produtores precisam de moeda para fazer pagamentos. Considerando restrições Cash-in-Advance (CIA) sobre a produção em geral e o investimento em I&D em particular, emerge uma relação negativa entre a inflação e a taxa de crescimento económico, já que as restrições CIA sob taxas de juros altas, impostas pela política monetária dos bancos centrais, penalizam a produção e, portanto, os motores do crescimento. Consequentemente, desincentiva o investimento, a competitividade e a criação de emprego.

10. Enfraquece a moeda local. Uma inflação significativa está geralmente associada a uma moeda enfraquecida no contexto internacional - i.e., deprecia a taxa de câmbio. As economias que importam quantidades significativas de bens e serviços têm de pagar mais pelas importações em termos de moeda local, havendo uma deterioração dos termos de troca.

11. Reforça a moeda local, perante bancos centrais independentes. Mas também a este nível, a inflação pode reforçar a moeda, dependendo do contexto. Desejando diminuir a inflação, bancos centrais independentes aumentam a taxa de juro, incentivando, por esta via, a procura de moeda nacional e, deste modo, contribuem para reforçar a moeda.

12. Penaliza a estabilidade social. Numa conjuntura de inflação, os preços têm tendência a variar de forma imprevisível, o que pode acarretar perdas consideráveis; por exemplo, ao reduzir o valor das poupanças. Habitualmente são os grupos mais desfavorecidos que mais são penalizados.