Aldo Andretta, OBEGEF

Clamamos veementemente pelo combate à corrupção, contudo, temos que refletir acerca de certos comportamentos adotados por uma parcela da população. Comecemos pelas pequenas coisa!

Uma pesquisa para entendimento de fraudes financeiras, curiosamente descobriu que 20% dos entrevistados admite ter cometido algum tipo de ato ilegal, contra o governo, empresas ou pessoas. Comportamentos como estes, ainda que sejam de uma parcela da população, nos mostra que ainda há muito trabalho a ser feito, para termos uma sociedade mais justa.

Seis a cada dez consumidores sofreram algum tipo de fraude financeira nos últimos 12 meses, aponta a CNDL/SPC Brasil”  (pesquisa na integra pode ser encontrada no link: https://site.cndl.org.br/71-das-vitimas-de-fraudes-ja-deixaram-de-comprar-em-um-site-por-desconfiar-de-sua-reputacao-aponta-pesquisa-cndl-spc-brasil/). Até aqui, infelizmente nada de novo, pois este tipo de fraude vem crescendo no Brasil, em Portugal e no mundo todo. Uma pesquisa publicada pela plataforma de riscos Feedzai, mostra que esse tipo de fraude cresceu 23% globalmente. (https://feedzai.com/pt-br/pressrelease/relatorio-de-crimes-financeiros-da-feedzai-aumento-de-23-em-fraudes-online-com-os-pagamentos-virtuais-no-papel-principal/). Por aqui o crescimento foi um pouco maior, chegando à casa dos 28%.

Comparando as pesquisas, há algumas semelhanças, como o primeiro item do TOP 5, que é não receber por um produto ou serviço comprado, que também pode ser considerado uma venda falsa. Em comum, também a engenharia social e o smishing/phising, mostrando a similaridade dos golpes praticados pelo mundo.

Mas o ponto que nos chama atenção é 3,4 milhões de consumidores, ou seja, 20% da amostragem realizada indicam ter cometido algum tipo de fraude. Entre os mais comuns está o que chamamos aqui de “gatonet” (gato por aqui é o nome dado para uma instalação irregular, como forma de burla e NET que é uma operadora de TV por assinatura), assim como o mesmo procedimento com a energia elétrica  e telefone. Também estão neste ranking o ato de mentir sobre o preço de valores em concorrentes, para poder pagar mais barato, o consumo sem pagamento e o furto de produtos dentro de lojas, cancelar compras feitas pela internet, após o recebimento (chamamos de auto fraude) e a falsificação de documentos comprobatórios de rendimentos ou de endereço, para conseguir a aprovação de crédito.

Como dissemos no início, claro que não podemos generalizar e dizer que toda a população tem a mesma tendência. Mas esta parcela da população em nada contribui para uma sociedade com um maior nível de integridade.

Se analisarmos sobre o prisma do triangulo da fraude de Donald Cressey, podemos encontrar diversas justificativas que racionalizam essas atitudes, como por exemplo, ter o preço cobrado pela TV de assinatura já é alto, tendo que pagar pacotes adicionais, como futebol por exemplo, entendendo ser injusta a cobrança; ou a ganância de conseguir um preço melhor por um produto ou consumir um produto em um supermercado sem pagar, por entender que a pratica de preços é abusiva (há alguns poucos casos de extrema necessidade, mas é uma exceção, diante do cenário que colocamos aqui).

Considero que este mesmo pensamento é aquele do “jeitinho” para conseguir alguma licença, um documento em algum órgão público, ou se livrar de uma multa aplicada por um agente de fiscalização. E também penso que este pensamento incentiva o agente público a também cometer desvios. E aí está dada a corrupção!

Mas, podemos fazer um paralelo entre esses “delitos” praticados pelos consumidores participantes da referida pesquisa com a corrupção? Não seriam situações distintas uma das outras?

Tenho a impressão de que se falarmos apenas da parte penal, podemos realmente estar falando de aspetos distintos. Mas a questão tratada neste breve texto é a moral, pois entendo que se existe a flexibilidade moral para pequenos atos desonestos, existe a possibilidade de que ela se estenda para os grandes delitos. Não é só pela ação, mas pelo contributo que essa pessoa pode dar para que o sistema de atos ilegais ocorra.

E isso se dá pela ação propriamente dita, como citamos acima e/ou pela conivência com atos de terceiros, como por exemplo, o voto, que acaba por eleger políticos de índole duvidosa ou a “vista grossa” com atos que são prejudiciais para a sociedade como um todo.

Por fim, entendo que há um trabalho considerável a se fazer no que tange ao aspeto moral para evoluirmos como sociedade. Reitero que não pretendo generalizar uma amostragem e dizer que todos são corruptíveis. Nem pretendo achar que conseguiremos em um curto espaço de tempo mudar a mentalidade das pessoas, para que tenhamos um país mais íntegro, mas quero aqui deixar uma reflexão, sobre o quanto pequenas atitudes, como as mencionadas na pesquisa que trouxemos, podem prejudicar todo um sistema.

Mudar coisas grandes é difícil! Então comecemos pelas pequenas!