Jorge Fonseca de Almeida, OBEGEF
Nos dois casos, a questão central parece ser a utilização do poder institucional para fins meramente pessoais.
Rebentou, depois de muita maturação, mais um escândalo ligado ao colapso do BES, desta vez, envolvendo Luís Filipe Vieira e o Benfica. A versão da acusação veiculada pela comunicação social diz-nos que, aparentemente, a utilização de um testa-de-ferro, o próprio Vieira, para esconder créditos malparados pelo BES, tê-lo-á deixado a braços com uma empresa deficitária e uma enorme dívida pessoal. Para se livrar desta dívida terá procurado fazer algumas transações financeiras duvidosas envolvendo o Benfica. Nos dois casos, a questão central parece ser a utilização do poder institucional para fins meramente pessoais.
Independentemente da culpabilidade ou não de Vieira, as consequências para o clube são evidentes e muito negativas. O risco de reputação do clube disparou e com ele o prémio de risco pedido pelos investidores e credores. A manter-se, como é muito provável, a direção Vieira, agora liderada por Rui Costa, o risco vai manter-se com os inerentes custos financeiros associados. Um desastre económico para o Clube.
Vieira já arriscara a reputação internacional do Benfica com a sua associação a um personagem como Ventura, exatamente no momento em que, por todo o mundo, se combate o racismo no desporto, colocando o Benfica do lado errado da equação. Esse elo nunca foi quebrado e o dano na reputação do clube ficou, também ele, com o seu pesado custo.
No entanto, o custo de reputação, se bem que grande e gravoso para as contas de qualquer instituição, não é imediatamente visível para os sócios e acionistas. Não existe uma linha na conta de resultados que traduza esse custo. Mas, obviamente, uma vez que existe pode ser calculado. Como? Por exemplo comparando o custo do capital do clube com outros de igual dimensão e orçamento. Comparando o preço pago pelos jogadores de igual cotação. Comparando a atratividade do clube para jogadores de nível semelhante.
É nos juros mais altos, no custo mais caro de jogadores e na menor atração de profissionais competentes que o custo de reputação se materializa e pesa nas contas e no Futuro do Clube.
Como evitar então os conflitos de interesse e os riscos reputacionais?
Em primeira linha é necessário um modelo de governação que permita o controlo dos executivos. Como? Através de uma maioria de membros independentes não executivos que controle os membros executivos. Para obter essa maioria e esse controlo, o melhor modelo é o alemão/nórdico com a separação entre Conselho de Administração e Conselho Geral e de Supervisão. É neste modelo que podemos encontrar os menores níveis de corrupção e de risco reputacional. São completamente imunes aos conflitos de interesses e à fraude e corrupção? Não, mas são melhores do que os que concentram o poder nos executivos.
É tempo de os sócios do Benfica perceberem os custos financeiros e desportivos que os danos reputacionais causam ao clube. É tempo de a instituição ter outro modelo de governação que avalie as práticas dos dirigentes e os possa destituir com celeridade, caso ultrapassem os limites da ética e do estrito cumprimento das leis.