Pedro Moura, Expresso online (114 11/03/2021)

 

Face a maus serviços que possam ser prestados por organismos do Estado ou de empresas, os portugueses protestam pouco. Têm medo do poder, não vá o diabo tecê-las, e ficarem ‘queimadas’, com consequências ainda piores

Ao longo desta pandemia fui sabendo de casos de pessoas que eram obrigadas pelas suas chefias a ir trabalhar para os escritórios, mesmo não sendo necessário. Provavelmente só estupidez de gente insegura e que nunca deveria ter qualquer cargo de responsabilidade.

Mas as pessoas iam para o escritório, para não se arriscarem a perder os seus empregos. Queixarem-se? Para quê? O português barafusta, fala mal como se fosse morder em tudo, mas não se queixa formalmente, tem sempre medo. Geralmente argumenta que não vai adiantar nada queixar-se, falar, fazer valer os seus direitos de cidadão.

Os serviços do Estado ou de empresas tratam mal as pessoas, prestam um mau serviço, atrasam-se como se não fosse nada consigo? Vem de novo o padrão de ‘ladra, mas não morde’. Em Portugal as pessoas têm medo do poder, é algo que sentem como distante. Não vá o diabo tecê-las, e ficarem ‘queimadas’ com consequências ainda piores.

Alguém tem um ‘conhecido’ que se sabe fazer umas falcatruas para enganar o Estado ou uns papalvos? Palmadinhas nas costas do ‘conhecido’, para o círculo mais próximo pintá-lo de negro num misto de inveja e admiração, para si mesmo a tentação mental de imitar o feito para ‘sacar mais algum’.

Há indícios (ou certezas) de que um presidente do seu clube de futebol ou um autarca do seu partido comete atos de fraude e corrupção? Bico calado, que o português sabe bem o seu lugar e é pródigo a encontrar formas de virar o bico ao prego quando para aí está virado. Denota-se uma certa confusão entre a personalidade da pessoa e a ‘personalidade’ do grupo a que pertence, típica de uma mentalidade insegura e/ou infantil. Sobretudo, defender sempre os ‘seus’ e manter o ‘respeitinho’ para com os de patente mais elevada, mesmo que para tal seja necessário torcer supostas convicções e opiniões até ao nível rosca de parafuso.

Quem não quer ser cordeiro não lhe vista a pele.