Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
É tempo de alterar a legislação laboral, fortalecer os sindicatos e deixar cair as empresas improdutivas que só sobrevivem através dos baixos salários que pagam.
Portugal surge no penúltimo lugar europeu, só ligeiramente acima da Bulgária, nas estatísticas divulgadas pelo Eurostat relativas ao salário médio. Por este andar em breve ocuparemos o último lugar, sendo assim o país em que quem trabalha pior vive e recebe. Maior convite à emigração não há.PUB
Ao comparar os ordenados médios em termos nominais Portugal surge algumas posições acima. Mas quando a comparação leva em conta o diferente custo de vida dos diversos países, no que os economistas designam como paridade de poder de compra (PPP), então o nosso país surge no penúltimo lugar no salário médio horário em PPP muito próximo do último lugar ocupado pela Bulgária. Os salários mais elevados são praticados na Dinamarca e na Alemanha e os mais baixos Letónia, Portugal e Bulgária por essa ordem.
É obra, nos últimos vinte anos conseguimos tornar a maioria do povo português nos mais mal pagos da Europa. Tiramos o nosso chapéu a políticos e empresários que conseguiram esta proeza.
Como explicar este feito? Duas razões principais. A primeira consiste na falácia de que a competitividade se consegue com salários baixos. Nada mais errado. A competitividade, pelo contrário, consegue-se oferecendo no mercado produtos com preços baixos e qualidade média/alta obtida pela utilização intensa de capital/tecnologia nos processos de fabrico. Enquanto persistirmos no modelo dos salários baixos pior ficaremos.
A segunda razão tem a ver com a renúncia ao investimento público e às empresas públicas. O setor privado tem a maior dificuldade em criar e gerir empresas grandes, as que podem gerar economias de escala e rentabilizar fortes investimentos de capital intensivo/tecnologia. Nunca o conseguiu fazer em 40 anos de democracia apesar de todas as ajudas europeias e nacionais. Ora ao renunciar às empresas públicas, hoje quase todas estrangeiras, com centros de decisão no exterior, também essas empresas perderam a possibilidade de ser polos de desenvolvimento. Falta, pois, um impulso público na forma da criação de empresas fortes, bem capitalizadas e capazes de dinamizar à sua volta um conjunto de pequenas e médias empresas privadas como acontece na generalidade dos países mais avançados.
O modelo dos salários baixos não está de forma nenhuma esgotado. Ao atingirmos as últimas posições europeias podemos continuar a empobrecer, passando a reduzir os salários para níveis de outros continentes. A questão é se queremos continuar nesse caminho.
Os recentes aumentos, muito limitados, dos salários encaminham-nos inexoravelmente para o último lugar que talvez atinjamos já em 2021.
É triste ver o nosso país na penúltima posição a nível europeu. É tempo de mudarmos de estratégia. É tempo de alterar a legislação laboral, fortalecer os sindicatos e deixar cair as empresas improdutivas que só sobrevivem através dos baixos salários que pagam.