Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo (JN / DN)
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Portugal devido à dificuldade do governo em controlar a pandemia mergulhou numa enorme crise económica e social, algo mitigada por moratórias de crédito, proibições de despejos e alguns escassos apoios sociais que não mascaram as dificuldades crescentes de uma parte muito significativa da população. A questão que se coloca hoje é como sair desta terrível situação?
A primeira prioridade é controlar a doença. Com quase uma centena de mortos diários não há sociedade que esteja tranquila e consiga focar-se no desenvolvimento económico. Para isso são necessárias medidas eficazes que limitem o contágio e reforcem os cuidados de saúde à população (o Covid quando tratado tem baixa mortalidade, quando não tratado tem uma mortalidade muito maior). Estas são medidas prioritárias para o relançamento da economia. Proteger a vida e a saúde.
Para que estas medidas sejam eficazes são necessários apoios às empresas e aos trabalhadores que forem obrigados a parar temporariamente.
Depois da pandemia controlada é necessário um grande investimento público que possa relançar a economia e contribuir para o desenvolvimento do país. Para levar à prática esse investimento é necessário constituir ou trazer para a esfera pública um conjunto de empresas. Sem esse instrumento e contando só com a iniciativa privada a rapidez de execução, que é crucial, será muito mais lenta. Porquê?
Porque o tecido produtivo português é essencialmente constituído por micro, pequenas e médias empresas que, compreensivelmente, trabalham essencialmente para empresas estrangeiras. Não têm dimensão nem músculo financeiro para suportar o desenvolvimento do país. Acresce que muitas estão endividadas e lutavam já pela sobrevivência antes da pandemia. Por outro lado as grandes multinacionais estão atualmente a repensar as suas cadeias de valor, procurando encurta-las, o que pode significar o encerramento total ou parcial em Portugal e a transferência de atividades para os países de origem.
Sem poder contar com o investimento estrangeiro e sem conseguir suportar o relançamento na iniciativa privada, Portugal só pode concretizar os investimentos necessários através de empresas públicas nacionais. Alternativamente teremos um arranque muito lento e difícil.
Portugal, devido à fragilidade da sua estrutura empresarial, foi o segundo país da União Europeia cujo PIB mais desceu, se a isto juntarmos um arranque lento e penoso, temos as condições perfeitas para agravar o atraso, a pobreza e a emigração no nosso país.
É isso que queremos evitar. Mas é preciso coragem política para mudar de estratégia e por de lado preconceitos ideológicos contra a esfera pública e a propriedade pública.