Manuel Castelo Branco , Visão online

As empresas multinacionais e suas associações empresariais também têm utilizado o lobbying para procurar contrariar ou atrasar as políticas de alterações climáticas.

Multiplicam-se as notícias sobre o aproveitamento da pandemia do Covid-19 por parte de empresas multinacionais e associações empresariais para pressionar os decisores públicos no sentido de tomarem decisões que consideram serem-lhes favoráveis. Por exemplo, um relatório muito recente da organização Friends of the Earth com o título “Cashing in on COVID” (que se pode traduzir de forma grosseira por “Lucrando com o COVID”), no qual foi analisado o caso das empresas de petróleo e gás baseadas nos Estados Unidos da América e das suas associações empresariais durante o primeiro trimestre de 2020, dá conta do lobbying exercido e dos grandes benefícios obtidos por tais empresas dos apoios resultantes das políticas de resposta à pandemia do Covid-19, nomeadamente os relativos a isenções fiscais e empréstimos de estímulo.

Mas as empresas multinacionais e suas associações empresariais também têm utilizado o lobbying para procurar contrariar ou atrasar as políticas de alterações climáticas. De tal forma que a importante organização Carbon Market Watch sentiu necessidade de publicar um documento em que denuncia aquilo que designam de “lobbying climático da indústria”, com o título “Never Wasting a Crisis” (que pode ser traduzido por “nunca desperdiçar uma crise”). Neste documento conclui-se que se têm observado várias tentativas no sentido de usar a pandemia Covid-19 “como um pretexto para enfraquecer a legislação climática nacional, Europeia e internacional e a implementação do Green Deal da União Europeia”. De acordo com tal documento, as indústrias altamente poluentes têm exercido pressões sobre os responsáveis pelas políticas no sentido de lhes conceder isenções “para servir o seu interesse económico de curto prazo e nos fixar em economias baseadas em combustíveis fósseis altamente poluidoras e destrutivas”.

Este tipo de aproveitamento da pandemia Covid-19 e as eventuais perdas de legitimidade empresarial a que poderá conduzir encontrar-se-ão seguramente entre as motivações da recente iniciativa sobre o lobbying das alterações climáticas responsável desenvolvida pelo AP7, o maior fundo público de pensões sueco, o BNP Paribas Asset Management e o Church of England Pensions Board, em parceria com a Chronos Sustainability, no sentido de influenciar este tipo de lobbying, nomeadamente através da criação de um enquadramento com base no qual ele possa ser levado a cabo de forma responsável (https://www.chronossustainability.com/responsible-lobbying).