Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

 

O Facebook anunciou esta semana que tendo a experiência de teletrabalho corrido de forma positiva pretende manter cerca de metade dos seus trabalhadores a trabalhar de casa. Esta é uma alternativa que permite efetuar poupanças muito significativas em espaço de escritório e em tudo o que um local físico de trabalho implica desde equipamentos, eletricidade, água, estacionamento, etc., etc.. Muitas outras empresas se seguirão não temos dúvidas. Uma das principais lições desta pandemia é que ela não tem gerado novas tendências antes acelerado as que já estavam inscritas na realidade anterior. O teletrabalho é uma delas.

O que surpreendeu os trabalhadores foi o facto de o Facebook ter informado os seus trabalhadores californianos que o salário passaria a estar ligado ao local de residência. Isto é quanto mais barato o local de residência menor o salário e quanto mais caro o local de residência maior o salário. E informou-os que mentir em relação ao local de residência pode levar ao despedimento. Qual a justificação desta, aparentemente estranha, política? Vejamos a oficial e a implícita.

A oficial é que o Facebook não quer que os seus trabalhadores californianos se mudem para outros Estados em que o custo de vida é mais barato, preferindo tê-los por perto, para que os possa mobilizar para reuniões ou outros eventos. Ficam assim os trabalhadores coartados na sua possibilidade de aproveitar o custo de vida mais barato noutros Estados, ou até no estrangeiro, mantendo o seu salário. Será legal? Ilegal? Vai ser certamente questão para ser dirimida em negociações laborais e na barra dos tribunais.

A razão implícita é a que o Facebook se apresta para aproveitar as diferenças de custo de vida e de salários entre os vários estados, e mesmo entre os vários países e pagar por trabalho igual salários muito diferenciados sem na verdade ter de incorrer na deslocalização. O teletrabalho permitirá assim a uma empresa contratar os trabalhadores com as qualificações que pretende pagando-lhes o mínimo possível.

O teletrabalho permite aproveitar os recursos humanos disponíveis em todo o planeta e diminuir consideravelmente a emigração. Não mais terá o programador mexicano de passar a fronteira em busca de um emprego em Silicon Valley. As empresas de Silicon Valley vão contratá-lo no México e pagar-lhe um ordenado local.

Vantagens? Desvantagens? Do lado dos custos das empresas os ganhos são evidentes. Mas também há inconvenientes. Desde logo será mais difícil a gestão horária e intercultural das equipas. Nos últimos anos contudo as grandes empresas ganharam já uma enorme experiência no planeamento e controlo do trabalho e na gestão deste tipo de equipas multiculturais. O momento é portanto oportuno.

Veremos multiplicar-se o número de portugueses em teletrabalho para empresas multinacionais. Mantendo salários portugueses mas ficando em Portugal.

Em contrapartida em Portugal a cultura empresarial está longe de estar preparada para este salto. As chefias precisam de proximidade física com os seus subordinados para planear o trabalho e o controlar. A desorganização e a falta de planeamento, a grande quantidade de assuntos tratados à última da hora não se coadunam com equipas com membros espalhados em vários fusos horários. A empresa portuguesa típica não está preparada para este salto. Para elas é ainda um salto no escuro.

Em esforço de aprendizagem de gestão de equipas à distância é essencial. Eis um tema central na adaptação empresarial para o Futuro que está aí.

* Jorge Fonseca de Almeida, economista, MBA